No dia 27 de maio, dedicado à Mata Atlântica, o Brasil não tem muito o que comemorar. Até porque o Atlas da Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) informam que o seu desmatamento cresceu 400 por cento em alguns estados (como São Paulo e Espírito Santo), entre 2019 e 2020. Ou seja, uma tristeza só, ainda mais sabendo-se que se trata de um dos biomas mais ameaçados do Planeta, e do qual só restam menos de 12,4 por cento da cobertura original. Infelizmente o Ministério do Meio Ambiente que temos não atua a favor dos nossos recursos naturais, ficando do lado de madeireiros e grileiros como vem sendo observado em várias regiões do país. E estão aí inquéritos da Polícia Federal que não deixam mentir, envolvendo o sinistro Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Além daqueles dois estados, sofreram grandes perdas, também, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte, Goiás e Rio de Janeiro. Felizmente Pernambuco não está na lista dos maiores perdedores. Mas pode entrar no próximo ano, pois o bioma sofre uma ameaça grande, caso o Governo do Estado implante o Arco Metropolitano tal qual foi concebido, passando por dentro de áreas protegidas como a APA Aldeia Beberibe. Ainda bem que a população criou o movimento Arrudeia, e está mobilizada para que a destruição de árvores seculares não aconteça. Segundo o projeto oficial o Arco Metropolitano será implantado sem “atravessar áreas urbanas”. Ou seja, vai avançar pelo meio das matas.
A pretendida rodovia ligará a BR-101 Norte (em Goiana) à BR-101 Sul (no Cabo de Santo Agostinho). O problema é quando passa no trecho que fica entre Igarassu (na BR 101 Norte) e São Lourenço da Mata (na BR 408). O Fórum Socioambiental de Aldeia acredita que, mantido o traçado original, a implantação da rodovia “vai destruir matas,matar animais silvestres, impactar nascentes e cursos d´água e desestabilizar mais ainda o regime de chuvas da região”. Como se sabe a APA Aldeia Beberibe funciona como um pulmão da Região Metropolitana. Caso a devastação se estenda por ela, em 2022 é provável que Pernambuco seja incluído na relação dos estados com registro de grandes perdas na Mata Atlântica. O que ficaria bem feio e triste para nós.
Felizmente há iniciativas em defesa do bioma,inclusive em estados onde houve grande perda em 2020, como é o caso de São Paulo. Algumas intervenções visam a sua recuperação, com plantio de espécies nativas. Outras, a conservação do que existe. Vejam só a foto lá de cima. Que exuberância! Ela foi captada no Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, que foi criada há nove anos naquele estado. Nesse período, pesquisas realizadas nos seus 35 mil hectares, registraram 1.765 espécies. Somente. É muita biodiversidade, não é não? Deste total, 809 são espécies animais e 956 são espécies vegetais. Entre os animais, 50 estão ameaçados de extinção, o mesmo acontecendo com 25 plantas. Ali funcionam vários projetos em defesa do bioma, inclusive com estudos sobre antas, animais de grande porte e que necessitam de espaços imensos para sobreviver. E tanto é assim que já sumiram do mapa, onde antes eram abundantes. Até antas albinas já foram detectadas lá. O projeto mais recente é o de conservação da Palmeira Juçara, espécie, nativa e simbólica da Mata Atlântica, à qual dedicaremos um post especialmente a ela e ao trabalho que será feito com a espécie.
“A destruição sistemática do bioma acabou com mais de 85% da vegetação original, tornando vital não apenas conservar o que resta de sua biodiversidade, como também promover projetos que visem a restauração da floresta, com ações conjuntas de toda a sociedade”, informa o Legado das Águas, reserva criada em 2012 e gerenciada pela Reservas Votorantim LTDA e mantida pela Votorantim S.A. O Legado das Águas fica no Vale da Ribeira, em São Paulo. “Buscamos sempre aliar a conservação da natureza ao desenvolvimento econômico, transformando as descobertas em oportunidades de negócio”, afirma João Francisco Whitaker Goncalves Dias, coordenador de Negócios na Reservas Votorantim. “É urgente que a proteção da biodiversidade seja vista como um caminho para o desenvolvimento local e a geração de renda”, completa, em discurso bem diferente daquele praticado por nossas autoridades.
Nos links abaixo, mais informações sobre devastações e iniciativas de proteção da Mata Atlântica.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Luciano Cardisan e José Alves / Legado das Águas/ Votorantim e Ecoverdejante (Acervo #OxeRecife)