Localizado a 101 quilômetros do Recife, o município de Bezerros é conhecido como a Terra do Papangu. O papangu é uma manifestação que confere identidade ao seu carnaval, um dos mais disputados do interior de Pernambuco, principalmente no domingo quando multidões de mascarados vão às ruas, seguem os blocos e até participam de concursos de fantasias. Fora dos dias de festa, há toda uma atividade que dá sustento a artesãos que vivem de produzir máscaras que, no resto do ano, são usadas até como objetos decorativos e “souvenirs”.

Além disso, Bezerros é conhecido, também pela riqueza de sua xilogravura. E é na cidade que reside J. Borges, que chegou a ser considerado pelo escritor Ariano Suassuna (1927-2014) como o maior xilogravurista popular não só do Brasil, mas do mundo. Não é à toa, portanto, que o artista tem obras espalhadas em museus e acervos particulares de todos os continentes. Para disseminar essa arte com a qual convive desde os tempos de menino – quando aprendeu a ler nos folhetos de cordel – ele fundou o Memorial Museu J.Borges, outra atração do município.
Bezerros tem – ainda – a localidade de Serra Negra, com seu clima ameno, a exuberância de sua vegetação e famosa cozinha regional. Também fica na cidade a unidade do Agreste do Centro de Artesanato de Pernambuco, que é muito visitado por turistas. Mas tem uma outra coisa que é a cara de Bezerros, o bolo Barra Branca. O #OxeRecife traz, então, um texto de Emanoel Correia sobre a iguaria. Emanoel integra o grupo Bora Preservar (do qual também faço parte), e costuma nos brindar com postagens sobre fatos, história, gastronomia e personagens de Pernambuco.
Dessa vez, ele fala sobre o bolo Barra Branca, que é, também, a cara de Bezerros. Veja o texto de Emanoel:
Se já comeu, gostou. Este bolo surgiu na cidade de Bezerros, agreste de Pernambuco nos anos de 1940, durante a Segunda Grande Guerra. Como assim? Foi de um erro de um boleiro da cidade que o bolo barra branca passou a fazer parte do cardápio do nordestino. Naquela época devido à guerra, a escassez de produtos era constante. Por isso o boleiro resolveu substituir a falta do trigo por massa de macaxeira (massa puba). Quando retirou do forno o bolo, notou que por fora ele apresentava uma cor dourada, e por dentro, a massa era branca como se estivesse crua.
Não tendo dinheiro para fazer outro bolo para vender, resolveu colocá-lo à prova. A aceitação foi geral, todos queriam comprar uma fatia do bolo. Imediatamente, pegou a receita e repetiu: massa puba, açúcar, manteiga, ovos, leite de coco, fermento e sal. Porém não saiu como o outro, ficou aflito e saiu repetindo a receita até encontrar o motivo do problema. E este nada mais era do que a quentura do forno, que devia passar dos 320° graus, o forno deveria ser muito quente para que o choque térmico pudesse acontecer. É por isso que você compra o bolo Barra Branca, sendo impossível produzi-lo no ambiente doméstico.
Hoje a cidade de Bezerros exporta o bolo para todo país, sendo a cidade de São Paulo o principal comprador com cerca de 6000 kg por semana. O sucesso dessa iguaria é tão grande, que já existe na cidade de Caruaru a “Festa do Maior Bolo Barra Branca do Mundo”, que é realizada durante o São João, no bairro do Salgado, na Rua Governador Rosado Maia, sendo que a última aconteceu no dia 23 de junho de 2019 devido à pandemia. ( ONG PRESERVAR PERNAMBUCO: “DEFENDER A HISTÓRIA E PRESERVAR A MEMÓRIA”)
Então, quando for a Bezerros, não deixe de visitar o Memorial Museu J.Borges, as lojinhas de máscaras de papangus, o Centro de Artesanato de Pernambuco, e Serra Negra. Mas não deixe, também, de comer o seu famoso bolo Barra Branca. De preferência, acompanhado com café.
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Comida e Tradição no Museu do EstadoTexto: Letícia Lins / #OxeRecife e Emanoel Correia (Grupo Bora Preservar)
Fotos: Internet