Estou cansada de ver, nas redes sociais, pessoas que – em busca de likes – mostram papagaios, araras, maritacas no ambiente doméstico, como se pets fossem. Na verdade, são silvestres e o lugar deles é a natureza, a floresta. E as pessoas que têm esses bichinhos em casa, em boa parte, fizeram aquisições que terminam por alimentar o tráfico de animais que no mundo, só movimenta menos do que o tráfico internacional de drogas. Lembrem-se todos: cada animal retirado do seu habitat faz falta à natureza.
Nessa semana, cinco araras-macau que comeram o pão que o diabo amassou nas mãos de traficantes, após reabilitadas, foram transferidas para o Parque Estadual de Dois Irmãos (Pedi), onde vão conviver com outras aves da mesma espécie. O Pedi fica na Zona Norte do Recife e nele funciona um zoológico. Os animais estavam tão debilitados, que tiveram que passar por tratamento no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras), da Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH). As aves não foram devolvidas à natureza livre porque estão mutiladas (asas cortadas) e não se encontram em condições de voar. E, nesse caso, podem se transformar em presas fáceis de predadores e caçadores.
Elas estavam sob a supervisão do Cetras desde 2023, quando foram apreendidas em operação contra o tráfico. São dois casais, e a que sobrou está com o sexo indefinido. No Cetras há outros animais da mesma espécie, que não estão mutilados e vêm sendo preparados para a merecida reintrodução à natureza. No Cetras os psitacídeos passam por exames – sangue e genotipagem (retirada de penas para análise do DNA) – e recebem cuidados até que estejam considerados em condições de sobreviver com autonomia em meio às matas. Os animais foram entregues ao Pedi pela Vice-Governadora Priscila Krause, e pelo diretor presidente da CPRH, Anchieta Santos, dentro das comemorações da Semana da Fauna. Os demais da mesma espécie que não sofreram mutilações serão reintroduzidos ao ambiente de onde foram criminosamente retirados. Outro drama aconteceu ainda nesta semana.
Eu mal acabara de postar o caso das araras, e a Polícia Civil de Pernambuco noticiava a apreensão, na quinta-feira, de um carregamento de 216 aves no Sertão do Estado. A maioria formada de psitacídeos: 171 papagaios, 10 periquitos e três jandaias. As aves restantes eram de espécies diversas. Os animais, transportados em péssimas condições, foram encontrados na BR-316, à altura do município de Araripina, que fica a 692 quilômetros do Recife. Os bichinhos foram recolhidos ao Cetras, da CPRH, onde serão preparados para voltar à vida selvagem.
Não custa lembrar. Passarinho não nasceu para gaiola. E quem compra uma ave, está alimentando a rede de tráfico (de animais silvestres) que chega a ser a segunda que mais movimenta dinheiro no mundo.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: CPRH/ Divulgação
