Violência cresce. E a impunidade?

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A violência, sinceramente, está fora de controle em Pernambuco. Onde a gente chega, logo de manhã, o assunto é sempre o mesmo, principalmente a questão dos assaltos. Eles ocorrem em cada esquina, nas escolas, nas praças. Quando inicio minha caminhada, me contam três casos, nas últimas 48 horas, dois deles com pessoas conhecidas: um na Praça de Casa Forte, outro no Dona Lindu, e um terceiro em um colégio público. Com medo, a população vem se refugiando em “jaulas”, observadas até mesmo em estabelecimentos comerciais, em bairros populares como Ibura e Santo Amaro, onde os clientes não ultrapassam o limite das grades. Tantos nestes, quanto nos mais sofisticados, é cada dia maior o número de casas com cercas elétricas.

Vejam três exemplos de assaltos corriqueiros no Recife. Todos ocorridos essa semana. Um casal de amigos – fotógrafo, educadora e duas filhas – circulava pela Praça de Casa Forte, na quarta-feira, quando dois rapazes, a bordo de uma moto, com revólver em punho, lhes tomaram todos os pertences. O foco, no entanto, eram os celulares. Um dos marginais ainda reclamou que o aparelho de uma das vítimas era “peba” e ele queria um mais sofisticado. Bolsas e documentos foram encontrados logo em seguida, em um local próximo. Na Praça, o quiosque da PM está vazio há um tempão. Do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, me chega relato, também, de dois homens armados, que exigiram celulares dos frequentadores do lugar. E na Cidade Universitária, o vigilante do Colégio de Aplicação teve a arma roubada por uma dupla de assaltantes. Só entre janeiro e fevereiro de 2017, os crimes contra o patrimônio já somam 20.276 em Pernambuco. O número de investidas, no entanto, deve ser bem maior, porque tem gente que acha que levar  casos como esses à polícia é perda de tempo. E o pior é que, às vezes, é mesmo.

Quiosques de praças - como Casa Forte e Fleming (essa perto do Parque da Jaqueira) vivem vazios. Cadê a PM?
Quiosques de praças – como Casa Forte e Fleming (essa perto do Parque da Jaqueira) vivem vazios. Sem PM e com assaltos.

Outro problema que chama a atenção, é muito, é a escalada de homicídios. Já são 977, só nos dois primeiros meses do ano contra 660 de igual período do ano passado. Ou seja, um aumento de 48 por cento. Alguma coisa, portanto, está errada no Pacto Pela Vida. Não se trata só de um “desconforto”, como quer fazer crer o Governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). Para enfrentar a explosão de assassinatos, a SDS informa que a partir de agora, qualquer delegacia investigará crimes dessa natureza, e não só mais o DHPP.  Será que isso vai dar certo? Será que todas as delegacias têm especialização suficiente para apurar esse tipo de crime?

Há alguns números que não vêm sendo divulgados. Por exemplo: qual é hoje o índice de resolução na investigação de homicídios?  Sabemos que um dos fatos que motivava o alto índice de CVLIs (crimes violentos letais intencionais) em Pernambuco era a impunidade, acusada nas estatísticas oficiais. Essa realidade foi escancarada, em 2007, pelos professores Luiz Ratton e Flávio Cirano, ambos da Universidade Federal de Pernambuco. O estudo terminou motivando o então Governador Eduardo Campos a lançar o Pacto Pela Vida. Pela pesquisa, de 2.114 processos examinados, só 1,3 por cento haviam chegado à Justiça, um ano depois do homicídio cometido. Destes, pasmem, apenas 0,8 por cento foram a julgamento, no mesmo período. Pior: só 33 por cento dos assassinatos chegavam ao Ministério Público, e destes, 39 por cento não tinham o autor do crime. Ou seja, a polícia não agia com eficiência, o MPPE não tinha como denunciar os criminosos, e o que a Justiça julgava, estava longe da real necessidade. Alguém sabe a resolução de hoje?  Porque a impunidade é, e sempre foi, um convite ao crime.

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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