Vila Sumaré precisa de socorro

Já que hoje é dia de Flipa (Feira Literária de Paulista), o #OxeRecife vai falar de um lugar praticamente desconhecido, no município vizinho, localizado a 16 quilômetros do Recife. É a Vila Sumaré, um simpático casario que margeia a quase devastada Mata do Frio, mas onde ainda é possível colher frutos, observar árvores nativas, ouvir o canto dos  pássaros e acompanhar o saltitar dos saguis, em meio às árvores. Soube da existência da vila através de um morador daquela cidade, Fábio Roberto, em correspondência enviada a um jornal do Recife. Ele afirmava que o casario antigo “de quase 100 anos poderia se tornar um point cultural da cidade”.

Inclusive com “gastronomia e artesanato, mas encontra-se em processo de deterioração”. Estive lá, motivada pela foto que vi no jornal. Realmente, a Vila Sumaré é uma graça. Mas nem a Prefeitura de Paulista (através da assessoria de imprensa) nem a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) conhecem a Vila. É como se ela simplesmente não existisse. Conversei com moradores antigos, quanto à sua origem. São muitas as histórias que ouvi a respeito. Algumas bem fantasiosas, por eles contadas, que chegam até o período holandês, hipótese facilmente desmentida, porque o casario deve remontar o início do século 20. A história mais viável me foi contada por Manoel Alberto da Silva Neto, 65. Seu pai trabalhou nas empresas do Grupo Lundgren, que seria o responsável pela construção do casario. Os imóveis teriam servido de moradia para técnicos importados da Europa, nos tempos áureos das empresas do grupo.

A  Mata do Frio, que garantia clima ameno, deve ter sido o  motivos pelo qual os alemães construíram a Vila Sumaré .

“Meu pai veio para Paulista, no tempo em que os Lundgren mandavam. Havia uma fábrica de tecidos, a Aurora, que cresceu muito. Aí eles fizeram outra indústria, a Fábrica Artur, que funcionou onde hoje é o Shopping North Way. As indústrias eram tão poderosas que, naquela época, tinha até trem para Paulista”, conta o morador. Ele diz que o pai trabalhou com a família durante longos anos, e era ele quem contava a história do casario. “Com certeza, a Vila Sumaré foi construída para abrigar os funcionários alemães”, diz. Ele teme pelo destino do local histórico. Fala que a especulação imobiliária é grande, e que muitas incorporadoras sondam a área para construção de condomínios residenciais.  Aí a destruição seria a mesma que já fizeram com a Mata do Frio, a Mata do Janga e a do Engenho Maranguape, redutos da Mata Atlântica, do qual restam pequenos retalhos, um deles junto à Vila Sumaré, o que confere à localidade um clima agradável (vai ver que, naquele tempo, era mais ameno ainda, devido à grande mata, o que era um alívio para os alemães habituados ao clima europeu).

“Estão querendo destruir isso aqui”, comenta Manoel. “Anos atrás, falaram que iam tombar, mas vieram algumas pessoas e depois sumiram”, reclama. O que aparece, agora, de acordo com o morador, é representante de empresas de construção, querendo derrubar os sobrados, para construção de edifícios.”A Mata do Frio era linda. Já destruíram muita coisa para construção de prédios, e, se descuidar, a destruição chega aqui também”, teme. Visitei uma das casas. Todas são padronizadas: dois pavimentos, janelões, escadaria e piso superior em madeira de lei. “As madeiras empregadas no piso são sucupira ou jatobá”, afirma o morador. No caso dele, todo o piso superior é em sucupira. Achei que os cidadãos – eu, vocês, todos nós – devemos ter conhecimento da Vila Sumaré. E lutar, para que não seja destruída, como já foram tantas edificações – pontes, prédios, fortes – do Grande Recife.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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