Lançado no dia 27 de março, no Cinema São Luiz, o documentário Pedro Jorge, uma vida pela Justiça, vem despertando interesse entre os meios acadêmicos. Ainda inédito no circuitão e na Internet, o vídeo foi exibido na noite de quarta-feira para estudantes e professores da Universidade Católica de Pernambuco. E volta a ser mostrado no próximo dia 8 de maio, na Faculdade de Direito do Recife. Produzido pelo Ministério Público Federal da Quinta Região e pela Unicape, ele assinala os 35 anos do assassinato daquele procurador, autor da denúncia da fraude milionária que ficou conhecida como o Escândalo da Mandioca.
O golpe, praticado contra o Banco do Brasil, consistiu em um desvio de cerca de R$ 35 milhões (a preços de hoje), e beneficiou fazendeiros, políticos, militares e famílias influentes da cidade sertaneja de Floresta, localizada a 430 quilômetros do Recife. Ameaçado muitas vezes, inclusive por telefone, Pedro Jorge não se intimidou. No dia 3 de março de 1982 foi assassinado a tiros, quando saía de uma padaria, em Olinda. Ele tinha acabado de denunciar 25 envolvidos na fraude. Como repórter do Jornal do Brasil à época, participei da cobertura tanto da fraude quanto do assassinato. Por esse motivo, fui uma das pessoas a dar depoimento no vídeo, ao lado do advogado Gilberto Marques, do Irmão Irineu Marinho, da família de Pedro e ainda de representantes do Ministério Público e da Justiça Federal.
No debate da noite de quarta, os estudantes queriam saber se, como repórter, sofri algum tipo de censura sobre o caso, porque vivíamos, ainda, uma ditadura. Mas foi o contrário, o Jornal do Brasil deu ampla cobertura, com orientação para que mergulhássemos a fundo nas artimanhas dos dois processos, o da fraude e o do assassinato. Autora do livro O Escândalo da Mandioca, a Procuradora da República Dalva Almeida afirmou, no debate, que “Pedro Jorge é um dos poucos heróis que nós temos”. E disse que o colega teve muita coragem e coerência. “Ele não era ingênuo, sabia dos riscos. Enfrentou os seus demônios, suava frio, tinha noites de insônia, sabia a pressão que estava sofrendo, mas não se intimidou, foi em frente”.
Ela disse que que pensou que o assunto, seria esquecido no futuro. “Felizmente isso não ocorreu. Tanto que estamos aqui, 35 anos depois falando dele. Pedro Jorge está mais presente do que nunca, cada vez mais vivo na história do Brasil”. Ela disse que apesar de ter pago com a vida pela sua correção, o procurador até hoje não foi homenageado dando nome a alguma rua ou praça. “Precisamos de uma praça com o nome dele, com muitas flores, para que todos vejam o exemplo daquele que foi um dos poucos heróis brasileiros”. Além dessa repórter aqui, participaram do debate na Unicape: Gilberto Marques (advogado da família), Dalva e Isabel Guimarães (Procuradoras da República) e o Irmão Irineu Marinho (beneditino, e uma espécie de pai espiritual da vítima), todos na foto de abertura desse post.
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Ana Dolores / Divulgação / MPF