Dizem as velhas populações ribeirinhas do Sertão do São Francisco que ele não dá mais peixe como antigamente. Até mesmo aquele que é a preferência gastronômica da região, o surubim, está rareando. O pescado começou a sumir, depois dos desvios para a construção de represas para gerar energia e também devido às obras para a transposição. Nesta semana, durante as comemorações da Semana do Meio Ambiente a Companhia de Desenvolvimento do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) introduziu 40 mil alevinos no Velho Chico.
Bem que ele estava precisando. Mas o que são 40 mil alevinos (filhotes de peixe) em um marzão de água doce como é o Rio São Francisco? Quase nada. Tanto que a própria Codevasf informou que a iniciativa foi “um peixamento simbólico”, promovido pela 3ª Superintendência Regional da Codevasf, em parceria com a Prefeitura Municipal de Petrolina. O ato contou com a presença de estudantes das escolas municipais Maria Soledade Alves e Eduardo Campos, em esforço para conscientização da importância da preservação daquele fabuloso patrimônio hídrico. O evento aconteceu na orla da cidade sertaneja localizada a 779 quilômetros do Recife. Foram liberados 33 mil curimatãs e 7 mil pacamãs.
Os peixes foram produzidos pelo Centro Integrado Bebedouro, que cria alevinos para recomposição da ictiofauna da Bacia do São Francisco, povoamento de açudes, reservatórios e aguadas. E ainda para o fomento da piscicultura e pesquisas na área de abrangência da Codevasf em Pernambuco. De acordo com a Codevasf, vários peixamentos já foram feitos no Velho Chico. O Centro espera produzir 2 milhões de alevinos em 2018, vinte vezes mais do que em 2017. Entre os filhotes produzidos encontram-se piau, curimatã, pacamã, tambaqui e tilápia, este último um peixe cada vez mais solicitado pelo consumidor de todo o país, que dão preferência às tilápias criadas em gaiolões no Velho Chico, onde elas ficam com a carne mais saborosa, sem aquele sabor de terra acusado pelas criadas em açudes rústicos, com encostas de areia.
Em 2019, a Codevasf produzir, também, pirá e Matrinchã. Alevinos são fornecidos, também, para agricultores que vêm no peixe um bom negócio, principalmente em época invernosa, quando os açudes estão cheios. Segundo a Codevasf, em 2018, cem pequenos açudes do Sertão de Pernambuco receberão alevinos, para cria, engorda e comercialização. Eu, particularmente, adoro o Velho Chico. Quase todas as vezes em que estive no Sertão do São Francisco, aproveitei para dar um mergulho em suas águas, ou ir até alguma ilha, de areias tão brancas quanto a de nossas praias. Ele precisa de peixamento mas, pelo menos, ainda não se transformou no esgoto a céu aberto que é o nosso Rio Capibaribe. No passado, quando nossas praias eram selvagens, as margens dele serviam como áreas de veraneio. Meu avô (já falecido) foi um dos veranistas, e lembro da descrição que ele fazia dos banhos que tomava, quando menino, nas águas hoje poluídas que passam na Várzea. Será que o Capibaribe ainda tem jeito?
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Foto: Codevasf/ Divulgação