Esqueça aquela roupa chique, que você tira do armário, quando quer fazer o tipo “cheguei”, para marcar presença em alguma vernissage. A ordem, essa noite, é resgatar o pijama, a camisola ou o baby-doll na gaveta. Pelo menos, é assim que o artista Daniel Santiago pede que seus convidados compareçam à abertura de sua exposição, a partir das 19h dessa terça-feira, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, quando inaugura a mostra Um Sonho de Ezra Pound, formada de nada menos de 20 camas de solteiro.
Porque Um Sonho de Ezra Pound? Diz Daniel que idealizou essa exposição em 2015, ao ler o escritor americano. Ele não lembra mais qual foi a obra do autor de Do caos à ordem que, segundo o artista, diz que a realidade não é exatamente aquela em que acreditamos e que fazem o nosso dia a dia. Mas sim, aquela que se apresenta e se concretiza no mundo onírico. As camas do “sonho”, portanto, foram dispostas no pavimento térreo do Mamam. Quem quiser, é só deitar e… sonhar.
Todas possuem lençóis, fronhas e travesseiros. Há, ainda, máscaras de olhos. Os apetrechos foram idealizados e estampados pelo artista visual Carlito Person. Ele utilizou a técnica de estampa artesanal com carimbos. Daniel informa que há um grupo, já definido, que vai dormir nas camas do Museu. Mas quem quiser fazer a experiência, pode se inscrever, para, então, passar uma noite lá no “sonho”, no casarão à Rua da Aurora, onde funciona o Mamam. Na verdade, Um Sonho de Ezra Pound integra a exposição Daniel Santiago em Dois Tempos, que, como o nome diz, é dividida em duas partes.
Além do happening, que conforme o artista “está fora de moda”, há uma a outra exposição no segundo pavimento do Mamam. Ela é composta de várias de suas obras, algumas que ficaram só no sonho mesmo, como A Democracia chupando melancia, que chegou a ser rejeitada pela Bienal de São Paulo. O visitante vai poder observar as diversas faces do trabalho do artista, desde a década de 1960. Há capas de livros, filmes e outras obras. Daniel Santiago ficou notável já na década de 1970, com performances artísticas que agitavam o Recife nos anos negros da ditadura. Muitas delas eram feitas em parceria com Paulo Bruscky, que chegou a sofrer perseguição política, nos anos de chumbo.
Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife