Durante minha vida de repórter, me defrontei, muitas vezes, com casos absurdos de violência contra mulheres, espancadas, estupradas, retalhadas, sufocadas, baleadas, assassinadas. Vi mulheres sofrendo abortos, porque apanharam dos maridos, em plena gravidez. Casos escabrosos, em que os responsáveis, no entanto, não eram punidos. Alguns, porque tinham costas quentes. Outros, porque possuíam bons advogados. E também havia os que se beneficiavam da inércia da polícia. Lembro que certa vez, entrevistei uma mulher em Paulista, que estava toda roxa, com hematomas por todo o corpo e que foi à polícia, denunciar o marido. Pois o cara além de torturar a esposa, ainda ameaçava matá-la. Pasmem, esse criminoso estava solto, porque seu crime foi considerado de “menor potencial ofensivo” na delegacia. Tudo não passou de um BO. Isso mesmo, um BO.
Pois veio a Lei Maria da Penha, e as coisas começaram a mudar a partir de 2006. Os agressores já não ficam tão impunes, mas infelizmente ainda há vítimas que temem acusar os seus parceiros. Por outro lado, já não são poucas as que aprenderam a denunciar os responsáveis por violência doméstica, estupro e assédio, mesmo que os agressores sejam famosos, como é o caso do ator José Mayer. Agora, no Recife, nós nos defrontamos com mais um caso de agressão gratuita, pelo simples fato de o alvo ser mulher. Mirella Sena de Araújo, 23, foi vítima de feminicídio, de um assassinato, por rejeitar um maníaco, que a desejava sexualmente. Ninguém sabe se o acusado a matou para que ela não o denunciasse – já que era seu vizinho – ou se resolveu matar a vítima, para dominá-la e possuí-la. Matar não tem perdão. Mirella não se entregou. Ela se defendeu heroicamente do agressor, arrancou tufos de cabelos dele, cravou unhas no seu corpo. Nada, no entanto, foi suficiente para dominar a sanha assassina do lutador de judô.
O #OxeRecife planta uma flor para Mirella, e espera que a justiça seja feita. Mirella, nós rezamos por você. E torcemos para que o autor do crime pague por tudo que fez, que o júri aplique a punição máxima que esse tarado merece. No presídio, ele vai conhecer um pedaço do inferno. Mas nenhum dos infernos que ele vai viver – inclusive o de consciência – será tão grande quanto a dor provocada pelo inferno que criou para os últimos momentos da vítima e para a vida dos seus amigos e familiares. De Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste do Estado, chega outra notícia terrível, de uma mulher estuprada pelo pai desde os nove, e com o qual foi obrigada a fazer sexo por 22 anos. Tem três filhos – de 10,12,14 anos – todas do genitor e amante compulsório. O acusado ameaçava matar a filha e tocar fogo na casa, se ela contasse a história à mãe. Ela só levou o caso à polícia, quando a mãe morreu. O homem está preso, e os filhos netos passarão por exame de DNA. Que agressores como o lutador de judô e o pai avô fiquem onde merecem: atrás das grades. Para sempre, se for possível.
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife