Eles estão rareando tanto na paisagem do Recife. Sobrevivem a muito custo, sobre pressão da especulação imobiliária, que vivem de olho nos seus grandes quintais para a construção de condomínios de luxo, em bairros como Casa Forte, Poço da Panela, Graças. Parecem náufragos, no meio de um “oceano” de concreto. Os que resistem, no entanto, acusam um tipo de construção muito comum no início do século passado: o chalé.
Muito solicitados por famílias abastadas entre as três primeiras décadas do século 20, os chalés lembram as casas grandes das fazendas daquela época, mas se urbanizaram no Recife. Eles possuem telhado em duas águas (como um V ao contrário) e terraço frontal, que alguns chamam de alpendre. Porém há chalés que também apresentam terraços nas laterais. Os muros costumam ser ornados com grades, deixando à vista seus jardins. Os pisos costumavam ser de ladrilhos hidráulicos e as telhas, quase sempre eram francesas.
Em 1997, doze chalés do Recife foram classificados como imóveis de preservação especial (IEP). Lembro-me, no entanto, de belos chalés que sumiram em bairros como o das Graças, Casa Forte, Casa Amarela, Espinheiro. Normalmente eles são de estilo eclético, e uma das características comuns é o uso de lambrequins, elementos decorativos em madeira, que podem ser vistos ainda nessas construções, não só no Recife como também em Olinda, onde ainda restam exemplares desse tipo de construção tão usual entre os nossos avós. Cresci ouvindo minha avó falar com saudade da Vila Maria, uma casa onde ela morara em sua juventude, à Rua Conselheiro Nabuco, em Casa Amarela. Era um chalé tão bonito quanto os dessa foto. Tinha jardim, quintal grande, fruteiras, muro com colunas separadas por uma grade de ferro decorativa.
Antes de escrever esse texto fui rever o chalé que ouvia nas conversas de minha infância. Está bem diferente. Do chalé, a gente só vê mesmo o telhado. Porque agora o antigo casarão se esconde atrás de um muro de mais de dois metros de altura, oque é comum nas construções modernas do Recife, que transformam as ruas da cidade em “corredores” penitenciários, como costuma destacar o urbanista Francisco Cunha. As construções em estilo chalé apareceram na Inglaterra e na França, no século 19, e no Recife, doze chalés do Recife foram classificados como imóveis de preservação especial (IEP), em 1997. Alguns deles, no entanto, estão em ruínas, como o antigo Hospital Magitot (na Várzea) e o Chalé do Prata (no Parque Estadual de Dois Irmãos). Ambos estão quase caindo, embora sejam tidos como raros exemplares de chalé romântico com dois pavimentos. Há um outro, na Avenida Dezessete de Agosto, o do Caldeireiro, que será restaurado para ficar no meio das edificações modernas de um condomínio em construção. Em Olinda, sobrevivem chalés como os dois da galeria, aparentemente bem conservados. Alguns desses chalés, já tinha observado em passeios solitários ou com grupos como o Caminhadas Domingueiras, o MeninXs na Rua e o Olha! Recife
Veja, nos links abaixo, a situação de outros chalés ou antigos casarões do Recife
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife