Um “iceberg” no meu caminho. Pode?

Compartilhe nas redes sociais…

Olhem só o tamanho do despropósito. A cena foi captada pelo meu amigo Hans Von Manteuffel, durante a última edição de nossas Caminhadas Domingueiras, infelizmente suspensas por enquanto, devido à pandemia/pandemônio do coronavírus. Tenho sempre relatado o abuso no uso dos chamados gelos baianos no Recife. Eles não só tornam a paisagem da cidade mais brutal, como têm atrapalhado a mobilidade e a acessibilidade ocupando nossas calçadas. Geralmente para proteger os postes, como se eles fossem mais importantes do que as nossas vidas. Soube por uma amiga urbanista e arquiteta, que eles são divididos em dois tipos: os “gelos baianos” e os “icebergs”, quando são gigantescos. É o caso deste da foto acima.

Se gelo baiano incomoda, imaginem só um iceberg em nossas calçadas…. Tenho visto dezenas deles,  nos espaços destinados aos pedestres, em vias importantes da nossa cidade, como Avenida Recife, Avenida Norte, Estrada do Encanamento, Avenida Dezessete de Agosto. Esse iceberg amarelo fica no Parque Amorim, no início da Avenida Fernandes Vieira. Vejam só o absurdo. Quase do tamanho de uma pessoa. E fica em plena calçada. Dia desses, passava eu de carro no Túnel Chico Science, quando um automóvel, ao meu lado, colidiu com um gelo baiano do tamanho deste daí. Penso que o motorista deve ter se distraído, e só vi o barulho e o momento em que o capô levantou. Me digam uma coisa: para que um gelo baiano, quase de minha altura, em um túnel? E qual a serventia deste da foto, sobre a calçada, a não ser proteger o …. poste?

Agressivos à paisagem, alguns gelos baianos começam a ser utilizados como suporte para arte de rua. E o pedestre?

Lembrei, então de um amigo meu, Fernando Batista, que reside em Salvador. Ele me enviou uma reportagem veiculada em emissora de TV Rede Bahia, em que a população daquele estado reclama da nomenclatura adotada para os infernais blocos de concreto, inicialmente usados só “para bloquear o trânsito” mas hoje utilizados também para “disciplinar o tráfego e assinalar trechos em obras”. A repórter Adriana Oliveira reclama do nome “gelo baiano”, termo que seria uma atitude preconceituosa contra a população da Bahia. O termo teria surgindo nos anos 1960, por dois motivos: devido ao formato (parece um gelo) e como fica parado, seria uma alusão ao jeito “indolente” de ser do baiano. “Tão preguiço, que nem derreter, o gelo derrete”, lembra a repórter. Os baianos reclamam do nome, dizem que não são preguiçosos, que trabalham muito.

O Diretor da Transalvador, Marcelo Correa, afirma que o nome deve ser “prisma de concreto” e não “gelo baiano”, sendo aquele o adotado na burocracia dos órgãos de trânsito daquele Estado. O problema é que o nome pegou mesmo e é utilizado em muitas cidades brasileiras, onde esses monstrengos proliferaram como o coronavírus. No Recife, por exemplo, há  vias onde ao invés de canteiros centrais, há duas fileiras paralelas de gelos baianos para separar as  faixas de ir e vir. Um horror. Eu detesto esses blocos. Considero que eles embrutecem nossa paisagem e que não há sentido para colocá-los sobre nossas calçadas, ocupando o espaço dos pedestres. Pior: já não são só os gelos baianos que ocupam nossos caminhos. Há, também, como disse minha amiga, os icebergs, que só não ficam mais brutais e horrorosos, porque um artista tem se dedicado a grafitá-los. Consegue emprestar uma certa graça aos monstrengos que, aliás, não têm nenhuma.

Leia também:
Gelos baianos no caminho do pedestre
O que vale mais, a vida ou o poste?
Calçada: gelo baiano ou pedestre?
Os gelos baianos e a Revolução de 1930
Gelos baianos invadem as calçadas
Mas o que é isso?
Que saudade da Rua Nova!
Requalificação na Avenida Recife inclui retirada de gelos baianos das calçadas?
As inviáveis calçadas da Avenida Norte
Perigo à vista na esquina da Futuro
Futuro das usurpações urbanas
Charme: calçada para andar e sentar
Discutindo o Recife a 5 km por hora
Uma “piscina” no meio do caminho

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.