O pernambucano Pedro Dias formou-se em contabilidade, mas optou pelo palco. E é um ator versátil e sem preconceito. Tanto pode representar um personagem histórico – como o autor da Prosopopéia, Bento Teixeira (1.561 – 1.618) – quanto encarnar um Papai Noel durante os festejos natalinos. Ou se passar pelo Dr. Francisquinho diante de adultos e adolescentes, no Projeto Camaragibe Redescobrindo a Sua História (na foto acima). Nessa época de pandemia, ele pode ser visto como o Coronavírus na esquete Bacana é ter saúde, apresentada ao lado da atriz Telma Ratta, nas ruas daquele, onde vem participando de ações educativas sobre higienização das mãos e formas de evitar contaminação pela Covid-19.
Na cidade – localizada a 14 quilômetros do Recife – ele integra duas trupes tradicionais de teatro, o Risadinha e a Companhia Popular de Teatro de Camaragibe, esta responsável por um dos grandes sucessos do teatro pernambucano, a peça Senhora de Engenho, entre a Cruz e a Torá (ao lado), na qual é contada a saga da lendária Branca Dias, uma das personagens femininas mais emblemáticas do século 16 em Pernambuco. Na peça, ele é Bento Teixeira, amigo e conselheiro de Branca.
Bento Teixeira era amigo da portuguesa e judia que foi perseguida pela Inquisição, e cuja vida intriga até hoje os historiadores. Pedro já encarou ao mesmo tempo dois outros personagens em uma outra peça, também de conteúdo histórico: Ana de Ferro, Rainha dos Tanoeiros, que remonta ao século 17, durante a gestão do Conde Maurício de Nassau no Recife. Mas, como diz a gíria, ele é pau para toda obra. “Sou um ator sem preconceito , faço qualquer personagem, sem nenhuma vaidade, pode ser de uma pontinha ao protagonista de uma peça, tanto o bonzinho quanto o vilão”, diz. “Com a mesma dedicação, faço de um Bento Teixeira a um Coronavírus, numa ação educativa”, afirma.
E acrescenta: “Importante não é o ator, mas a mensagem do espetáculo”, para logo em seguida reforçar: “ Acredito que o teatro é a melhor ferramenta para: informar, educar, questionar, provocar e divertir”. No Projeto Camaragibe Redescobrindo a Sua História, o ator percorria vários locais da cidade com outros companheiros, abordando fatos nem sempre bem explorados nas escolas. Na foto que abre esse post, ele (de terno) é o Dr. Francisquinho, dono do Engenho Tibi, um dos símbolos do município, pela sua importância na economia da cidade nos séculos passados. O curioso é que o Dr. Francisquinho é inspirado em um personagem vivo: Francisco de Paula Correia de Araújo, dono do Timbi e figura muito popular no município, onde costuma marcar sua sempre festejada presença em eventos culturais.
Para Pedro, o projeto foi gratificante. “Foi uma forma de levar a história nem sempre valorizada do município aos alunos da rede pública de ensino”. Na década de 1990, ele criou o Projeto Arranha Céu, que levava teatro com ingressos a preços populares a condomínios do Grande Recife. “Lembro de alguns espetáculos que se apresentaram nesse Projeto: Uma Linda Rosa, O Circo de Seu Bolacha, Minha Infância Querida”, diz ele. Com a pandemia e o maior temor do vírus em ambientes fechados, provavelmente o Projeto Arranha Céu volta a ser uma boa alternativa não só para os moradores e também para os atores. Vamos ver como fica, depois da quarentena.
Leia também:
Vila da Fábrica: moleza, gentileza e risos
Branca Dias reinaugura teatro
Branca Dias deve “retornar” a Portugal
Branca Dias retorna ao local que viveu
Branca Dias revive no palco
Senhora de Engenho entre a Cruz e a Torá: de Camaragibe ao Rio de Janeiro
Entre a Torá, o corno e o marido traidor
Do século 16 ao 21, no mesmo cenário
Apresentações gratuitas sobre lendária Branca Dias na Região Metropolitana
Saga de Branca Dias volta ao palco
Entre a Cruz e a Torá no Agreste
Branca Dias se despede dos palcos
Conheça melhor a lendária Branca Dias
Branca Dias está de volta aos palcos
Zoo Noturno Mal Assombrado. Ui, ui
Mistérios do além com Branca Dias
Casarão do Açude do Prata perto da restauração
Chalé do Prata começa a desabar
Vai sair reforma do Chalé do Prata
A mulher empoderada do século 17
Tejucupapo revive batalha do século 17
De volta às raízes mobiliza Camaragibe
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Divulgação