História, ela tem de sobra. Mas quem foi ao Festival R.U.A, no Bairro do Recife – no final de semana – defrontou-se com a situação daí da foto. Placa turística sem explicação nenhuma, que pudesse orientar os visitantes. Pela sua importância histórica, a ponte Maurício de Nassau deveria estar melhor sinalizada. Até porque originalmente foi a primeira grande ponte do Brasil. Tem até quem diga da América Latina. Em 1630 o Conde Maurício de Nassau já havia autorizado a construção de seus primeiros pilares de pedra. Mas a sua edificação, mesmo, só ocorreu para valer a partir de 1642. Em 1643, a obra seria paralisada. Temendo humilhação pública, o governante decidiu investir dinheiro do próprio bolso no projeto que, enfim, é inaugurado em 1644, em construção que mistura pedra e madeira e cujo tamanho equivalia ao dobro da ponte atual, que liga os bairros de Recife e Santo Antônio. .
Como a despesa foi muito grande, Maurício de Nassau decidiu divulgar que iria fazer um boi voar na inauguração da ponte, em 1644, cobrando pedágio à população que se aglomerava no local para ver o boi voador. Ele realmente cumpriu a promessa. Só que era um animal empalhado movido – ao que se supõe – por cordas e roldanas. A propaganda foi enganosa, mas ninguém pediu o dinheiro de volta. A população encarou com bom humor a brincadeira. E a curiosidade foi tão grande, que o pedágio terminou rendendo 1.800 florins ao governo flamengo. A história do boi voador caiu no gosto coletivo e faz parte do imaginário da população do Recife. Anualmente, essa história é encenada nas comemorações de aniversário da cidade, com direito a boi voador e tudo.
Mais de 40 anos depois de inaugurada, a ponte cederia derrubando 16 pessoas no rio. Passa por novas versões entre 1683 e 1742, quando cede outra vez. E o Recife ganha uma nova ponte em 1865, cujas estruturas sofrem logo processo de corrosão. Seria a ponte 7 de Setembro, por ser inaugurada naquela data. Em 1917, já chamada de Maurício de Nassau, a ponte é reinaugurada, na versão que se mantém até hoje. Originalmente, a Ponte ia do atual cruzamento da Marquês de Olinda com a Madre Deus até o cruzamento do que é hoje o da Rua Primeiro de Março com a do Imperador.
Tenho passado no local só ou em passeios em grupos, como os do Olha! Recife, Caminhadas Domingueiras ou Caminhadas Culturais. E pela importância histórica da ponte, sempre os nossos guias param para contar a rica e curiosa história da Maurício de Nassau, inclusive para descrever as imponentes estátuas de suas cabeceiras (Sabedoria, Comércio, Justiça e Agricultura). Também tem uma estátua dedicada ao calculista e poeta Joaquim Cardoso, em uma de suas calçadas. Mas se o turista se atreve a atravessar a ponte sem ajuda de guia e tenta conhecer ali a sua história, vejam só como está a sinalização turística. Triste, não é? A história do Recife e de suas pontes merece mais um pouco de respeito. Segundo a Prefeitura, a culpa é do vandalismo. “Essa placa já foi trocada duas vezes. Mas o povo passa lá e faz questão de depredar”, afirma Bráulio Moura, da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Recife. “Triste mesmo é saber que a placa estava novinha em março e alguém gasta tempo para destruir”, lamenta.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife