“Água no umbigo, sinal de perigo”. Essa foi uma frase que nunca esqueci. E me foi dita por um oficial do Corpo de Bombeiros, no auge da época dos ataques de tubarões em Pernambuco, problema que sempre existiu no estado, mas que se agravou a partir de 1992. Como repórter, lembro-me de um domingo onde em apenas um dia houve ataques de manhã e de tarde.
Ao longo de anos de profissão, vi gente morrer, perder perna, perder as duas mãos, ficar sem pedaço das nádegas,perder pedaços da genitália. Uma coisa muito triste. Só para manter a rima como fez o bombeiro, eu diria, “mar aberto, morte por perto”. Nele, como mostra o caso de sábado, em mar aberto, há risco de ataque e perigo até com água abaixo do umbigo. No sábado, a vítima foi Marcelo Rocha, que não resistiu ao ataque do peixe. Em Pernambuco, os ataques mais frequentes são de tubarões do tipo tigre ou então do cabeça chata.
O local onde houve o incidente que matou Marcelo, no final de semana, já tinha fama de ocorrência de ataques desde o século passado. Lembro-me que, na infância, passei muitos verões com a família na casa de minha madrinha, Terezinha Rocha, em Piedade. E que os mais velhos sempre diziam: “Cuidado no banho, na frente da igrejinha de Piedade tem tubarão, já morreu até um padre”. Não era história de bicho papão para amedrontar as crianças e reprimir os mais afoitos na água.
Era verdade. Em 1947, naquele mesmo ponto, um sacerdote foi devorado por um tubarão. E o local – com mar aberto e agitado – é reconhecido como de alto risco pelas autoridades do estado. Dos quase 70 incidentes de ataques registrados em Pernambuco, nada menos de 20 por cento foram lá, exatamente em frente à igrejinha de Piedade. Alguns deles, com água abaixo da cintura, como foi o caso de uma moça que estava acocorada no mar e foi atacada pelo peixe. Ao contrário das outras vítimas, seu nome nunca foi revelado e a família não permitiu contato com a imprensa.
No Recife, todo cuidado é pouco. Mas também pode-se tomar banho de mar com segurança, desde que sejam seguidas algumas regras. Por exemplo: Nunca, mais nunca mesmo, entre em área de mar aberto no trecho que vai do Cabo de Santo Agostinho a Olinda. Também nunca mergulhe na linha que passa após os arrecifes, principalmente na nossa cidade. Portanto, em Boa Viagem e Pina, ambas siga a mesma regra. Só entre em área protegida por arrecifes, de preferência com a maré baixa.
Também deve-se evitar banho em dias chuvosos, pois dizem os pesquisadores, o tubarão gosta de águas assim, digamos, um pouco turvas. É aconselhável não usar joias ou materiais brilhantes, evitar fazer necessidades fisiológicas na água, o mesmo acontecendo se você tiver alguma ferida no corpo. Mulheres menstruadas também precisam ficar longe do mar. É que fluídos orgânicos – sangue principalmente – atraem o animal. Também há muitas placas na areia, alertando para as áreas de perigo. Não custa nada seguir a orientação das autoridades.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife