Timbu, o devorador de escorpiões, baratas e até de cobras coral

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Cena 1 – Há alguns dias, estive na Praça da Várzea, quando me defrontei com uma ratoeira imensa, à venda em uma barraca de feira. Ao externar minha surpresa com o tamanho da armadilha, o feirante argumentou: “Essa pega tudo, rato, gabiru, timbu”. Cena 2 – Em programa de rádio, ouvinte pede presença da prefeitura no Engenho do Meio, devido à necessidade de “extermínio” dos timbus. Cena 3 – Praça de Apipucos, e eis que me defronto com um timbu ferido nos quartos, sem condições de andar. Levei alimento, porque ele não tinha como procurar.  Depois, fui até Aldeia, entregar o animal no Centro de Triagem de Animais Silvestres da Cprh, Cetas Tangara.

O timbu em questão morava nas proximidades de minha casa. Habitava um pé de pau brasil que fica na rua e, de minha janela, o vi muitas vezes subir e descer da árvore. Certa ocasião, ouvi um barulho estranho na cozinha, e era o bicho. Descobri, então, quem havia roído frutas que deixara por descuido na área de serviço. Ele tinha feito a “festa” no dia anterior, e na noite seguinte, veio atrás de comida. Claro. Animal silvestre, quando se urbaniza é assim: procura comida onde a oferta é fácil e generosa: no lixo, no quintal, na cozinha. Desde então, as frutas ficam cobertas todas as noites. Agora, não preciso mais tomar esse cuidado. O treloso faleceu,  infelizmente. Depois de aparecer ferido na Praça de Apipucos, onde dei água e alimento a ele. Como não melhorava, resolvi levá-lo ao Cetas, mas não houve mais jeito. A ferida infectara e o bichinho foi a óbito.

Cena 4 – Live da Cprh para assinalar a Semana da Fauna. O debate é sobre “Fauna Urbana”, cada dia mais frequente nas cidades, por conta do avanço da especulação imobiliária e da derrubada das matas. Durante o encontro, na tarde de terça-feira, uma revelação. O timbu é o bicho que mais motiva chamadas para resgate na Trilogia Bio. “O timbu está em primeiro lugar, é o bicho que ganha disparado dos demais”, afirma André Maia, da organização não governamental que é parceira da Cprh e trabalha no resgate de animais silvestres.  Se as pessoas estão acionando entidades competentes quando surge um timbu, isso é um fato animador. Pois indica que ao invés de matar o bicho com pauladas, por confundi-lo com rato de esgoto, a população finalmente começa a entender que o timbu é um animal silvestre e que tem papel importante na natureza. No entanto, ainda há muita gente que confunde o rato com timbu, como é o caso do feirante da Várzea e do morador do Engenho do Meio.

Por esse motivo, quando André faz o resgate dos timbus (ou de outros animais silvestres), ele além de recolher o animal para posterior reintrodução à natureza, explica aos moradores a importância do bichinho. No Recife o timbu é muito popular por ter se transformado em mascote da torcida de um clube de futebol, no caso o Náutico. Mas na vida real, ainda vai demorar um tempo para que as pessoas entendam melhor a importância do buliçoso animal. Em minhas caminhadas, já os vi em praças (Casa Forte), em jardins (na Estrada  das Ubaias) e até nos manguezais (Avenida Beira Rio, na Torre). No caso do timbu, ainda tem quem se surpreenda, quando ele explica o quanto o marsupial é ativo no equilíbrio ecológico.

Vejamos pois, como devemos enxergar o animal e seu papel na natureza. Primeiro, não confundir o timbu com rato. Enquanto o  primeiro é um grande transmissor de doenças e vive nos esgotos, o timbu vivia nas matas e migrou para as cidades. Gosta de árvores e telhados. Ele não é roedor, mas marsupial. Ou seja, é primo distante do canguru, pois carrega os filhotes em bolsa na barriga. E é semeador, pois costuma comer frutas e “semeia” ao defecar as sementes (gosta de manga, jambos, sapoti e até maçã, se tiver, pelo que observei no “roubo” da fruta em minha casa). Tem mais:  o timbu (ou gambá)  nos presta um grande serviço. Pois é devorador de pequenos mamíferos (até mesmo ratos), insetos (como barata e escorpião) e come cobra coral, mostrando ser imune não só ao veneno do inseto peçonhento como também do da cobra, tão temida. Por esse motivo, quando o timbu invadiu minha cozinha, o que fiz foi tanger o bicho com uma vara, para que voltasse à rua e à sua árvore predileta.

Em minhas caminhadas, já os vi em praças (Casa Forte), em jardins (na Estrada  das Ubaias) e até nos manguezais (Avenida Beira Rio, na Torre).  O timbu que achei ferido na Praça de Apipucos – duas semanas após a “invasão” à cozinha –  ganhou pedaços de frutas, para não morrer de fome já que perdera a capacidade de se locomover. Só se arrastava. Presenteei o animal com banana e maçã, que ele mostrou admirar tanto, quando realizou a trela no meu ambiente doméstico. Coincidência: Soube hoje à tarde que amanhã a Cprh divulga um vídeo educativo sobre o timbu.

Veja no vídeo, seu suplício para comer, após ter sido agredido e ficar imobilizado em uma poça de água:

 

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Texto, fotos e vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife

 

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6 comments

  1. Parabéns. Cheguei a ficar comovido com o estado do animalzinho. Infelizmente pessoas ignorantes agridem e matam animais silvestres. Como todos nós somos criaturas de Deus, creio que os gambás retornam para o Criador, não por possuírem uma alma, que não possuem, mas porque são inocentes e não se importam com bens materiais.

    1. O timbu presta grande serviço aos homens e à natureza. Mas infelizmente é um bichinho pouco entendido. Muito confundido com ratazana, gabiru. O que é uma pena!

  2. Sou gaúcho , tenho um pátio grande com pomar , eles “residem” no forro da minha casa não nos incomodamos pelo barulho que fazem ao caminharem , comem meus pimentões e mamões rsrsrs.

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