Tem gente que confunde gabiru com timbu. Pensa que timbu é um ratão. Não é. Também chamado de gambá (sariguê, saruê ou sarigueia, em outros estados), o timbu é marsupial (primo do canguru) e tem importante papel na natureza. É considerado um dos maiores predadores dos escorpiões e um dos seus “pratos” prediletos é a cobra coral. Come, ainda, ovos, frutos, vermes, insetos, lagartos, anfíbios e pequenas aves. Mas o animal é, também, um conhecido semeador, pois suas fezes dispersam sementes que, claro, brotam e crescem. Com a destruição das matas, eles estão cada vez mais presentes em ambientes urbanos (foto acima). No Recife, o timbu é símbolo da torcida do Clube Náutico Capibaribe.
Pois nesta semana, em plena crise do coronavírus, com todo mundo confinado em casa, apareceu uma alma boa para salvar uma família de bebês timbus, todos órfãos. A mamãe estava morta. Os filhotes foram encontrados em uma caixa de eletricidade (à esquerda), em Camaragibe, quando o professor e nutricionista Deivson Trajano sentiu o odor de algum bicho morto, que vinha da residência vizinha. Ao chegar ao local, em uma caixa por onde passam fios de eletricidade, encontrou a mãe e cinco filhotes. A fêmea e dois bebês estavam mortos. E também um sapo, morto.
Tajano teve pena dos bebês e os recolheu. Em seguida, compareceu ao Centro de Triagem de Animais Silvestres de Pernambuco (Cetas Tangara), no Bairro da Guabiraba – Zona Norte do Recife – e entregou os bichinhos, que serão assistidos e introduzidos à natureza, quando adultos. O Cetas pertence à Agência Estadual de Meio Ambiente (Cprh), que é o órgão responsável em Pernambuco pelo acolhimento de animais silvestres em situação de risco, vítimas de tráfico ou de cativeiro.
Para os moradores do Recife, as entregas eram normalmente feitas na sede da Cprh,que fica na Rua Oliveira Góes, 395, no Poço da Panela. Por conta da pandemia do coronavírus, elas estão limitadas ao próprio Cetas, localizado no km 81 da PE-16 (antiga Estrada da Muribeca), no Bairro da Guabiraba, também na Zona Norte do Recife. Para as entregas voluntárias, foi disponibilizado o número (81) 31839022 ou 31828876.
Devido ao coronavírus, o Cetas só está recebendo animais silvestres machucados, doentes, filhotes ou aqueles em risco de extinção. Muito bonita a ação de Deivson que, mesmo em tempos de coronavírus, tem amor de sobra à natureza em seu coração. Não se negou a sair de casa e levar os animais ao Cetas, para evitar que os bebês morressem. Ele acha que a mamãe timbu e os filhotes não morreram eletrocutados, mas sim envenenados. “Os animais não tinham marcas de queimaduras e, portanto, não morreram de choque”, disse. O nutricionista acredita que a mãe pode ter sido envenenada ao morder o sapo, que “tem uma glândula venenosa ao lado da cabeça”. E conclui: “O ferimento dele foi justamente nessa região”.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cprh / Divulgação