Em plena pandemia, com tanta gente passando fome, chega a ser chocante a pretendida iniciativa da Câmara Municipal do Recife para gastar R$ 2 milhões com a compra de 160 celulares para atender seus 39 vereadores. Se todo cidadão comum, até os de profissões mais humildes, não têm direito gratuito aos aparelhos, porque um vereador que é muito bem pago não pode gastar um tostão para comprar seu próprio aparelho? Qualquer mordomia quem paga, claro, somos nós com o dinheiro que vem dos nossos impostos.
E quanto mais se gasta, maior a necessidade de recolher tributos que vêm dos nossos bolsos, não é não? É preciso que os políticos pensem nisso, na coletividade, no trabalhador comum de cujos salários são retiradas fatias cada vez mais proibitivas de impostos. E quanto mais caro for o custo da máquina pública, maiores as alíquota incidem sobre nossos ganhos. Portanto, os políticos precisam pensar também em nós, nas nossas combalidas economias.O anúncio do pregão despertou revolta e comentários nas redes sociais e manchou, mais uma vez, a classe política que costuma despertar desconfiança em todas as esferas, a municipal, a estadual e a federal. Sempre aparecem iniciativas que chocam a todos nós.
Entre eles – em qualquer esfera, municipal, estadual e federal – sempre sobram mordomias, que vão de cinco motoristas por parlamentar, auxílio paletó, salários astronômicos para assessores e, em alguns casos, apartamentos funcionais como ocorre em Brasília. Há países na Europa onde seus representantes do povo vão ao parlamento de metrô ou bicicleta, e onde os políticos dispõem, por exemplo, de uma secretária para atender grupos de cinco.
No Recife, sabemos dos excessos e dos luxos dos carros oficiais e de alguns gabinetes tão inchados – no estado e no município – que falta até espaço físico para comportar o “exército” de servidores. Foi preciso manifestações nas redes sociais e também do Ministério Público de Contas, para que a Câmara Municipal do Recife, decidisse desistir de tanta ostentação. Os aparelhos escolhidos estavam entre os de última geração, com recursos tecnológicos que, com certeza, nem todos os vereadores saberiam usar. Em nota distribuída na manhã de hoje, a Câmara informa que decidiu, “por unanimidade, acatar as recomendações do Ministério Público de Contas (MPCO), no tocante ao pregão eletrônico 06/2021, para a renovação do contrato de serviços de telefonia móvel e suspendeu o edital do certame”.
E salienta a nota: “Todos os parlamentares da Casa concordam que o certame é transparente, lícito e segue o modelo utilizado pelo parlamento municipal desde 2001. Neste período de duas décadas, vale salientar, a Câmara Municipal sempre teve suas contas aprovadas pelos mecanismos de controle público, sendo um poder reconhecido pela população por seus serviços prestados”, diz nota distribuída pela Câmara Municipal. “Diante das recomendações do MPCO, do momento de pandemia e de manifestações da sociedade, vereadoras e vereadores compreenderam que suspender o edital seria a medida correta a ser adotada”, acrescenta a nota. Ou seja, com um pouquinho mais de bom senso, o vexame poderia ter sido evitado!
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife