Silvério Pessoa e Josildo Sá, o encontro do canavial com a caatinga

O São João de 2020 será diferente de todos que passaram. Não haverá fogueiras, fogos nem quadrilhas com os arraiais iluminados e enfeitados com bandeirinhas coloridas. É que a pandemia restringiu a grande festa popular do Nordeste ao mundo virtual no Recife,  onde 378 shows serão transmitidos pela Internet, durante o  período junino. Este ano, os homenageados da “festa” são dois: Josildo Sá e Silvério Pessoa. Com carreiras inteiramente dedicadas aos ritmos regionais, eles vieram de áreas diferentes de Pernambuco: Josildo Sá é sertanejo do município de Floresta,   mas passou a infância em Tacaratu, ouvindo os sons da caatinga. E Silvério Pessoa é de Carpina, Zona da Mata, com paisagem marcada pelo verde dos canaviais.

Josildo Sá iniciou a carreira nos anos 1990. Desde então,  o cantor e compositor, que tem 8 CDs e 2 DVDs lançados, sagrou-se um dos principais nomes do autêntico forró nordestino contemporâneo. Tem raízes profundas no baião, no xote e no coco, heranças de seu pai Agostinho do Acordeon. Há 16 anos, ele canta as Rezas de Sol, na Missa do Vaqueiro, que acontece anualmente no município de Serrita, no Sertão de Pernambuco.  Também rodou por várias partes do país, sendo indicado duas vezes como melhor cantor regional do Brasil no Prêmio da Música Brasileira com seu Samba de Latada. E não costuma andar só. Já teve como parceiros o Maestro Paulo Moura, Zé Brown, João Donato e Leo Gandelman, além de José Milton e dos maestros Formiga e Edson Rodrigues, que guiaram suas incursões pelos acordes seculares do frevo, quando venceu dois prêmios do concurso do Galo da madrugada e lançou o disco Tem Frevo na Latada.

Silvério Pessoa (acima) e Josildo Sá (foto central) são os homenageados do São João da resistência e da pandemia.

Como Josildo, a convivência de Silvério com a música começou cedo. E em casa. A mãe, Dona Ivete, era professora de acordeão. Mas foi somente depois de graduar-se e especializar-se professor, que decidiu fazer da música seu ofício e sua história, devotando-se aos palcos e ao legado cultural de seu povo. Sua carreira profissional teve início com o grupo Cascabulho, banda que formou em 1994. Com ela, fez turnês pelo Canadá, Estados Unidos e Berlim, participou de vários festivais.Como  compositor, ganhou o Prêmio Sharp de Música em 1999, categoria Regional, pelo CD Fome dá dor de Cabeça, que revisitava a obra do paraibano Jackson do Pandeiro.

Pouco depois, a carreira solo do cantor começaria com um disco inspirado na obra de Jacinto Silva, com o titulo Bate o Mancá – O Povo dos Canaviais, que ganhou reconhecimento até internacional. Com oito discos lançados, um DVD, participações em importantes eventos de música e 12 anos de turnês internacionais, Silvério atualmente se divide entre os palcos e as salas de aula, entre as atividades musicais e as pedagógicas. Nascido e criado no meio do povo, ele é aula e recreio, repente e música eletrônica, forró e punk, um colecionador atento de histórias, modos e sonoridades de sua gente no Nordeste.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / PCR/ Acervo #OxeRecife

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