Sessão Recife Nostalgia: Antônio Gomes Neto revive o passado de Apipucos

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Apaixonado por Apipucos. Pelo seu presente e muito mais pelo seu passado. Assim é o jovem Antônio Gomes Neto que nasceu, cresceu e vive naquele que bairro que Gilberto Freyre chamava de “rurbano” e que, ainda hoje, em pleno século 21 preserva seu lado rural, embora a especulação imobiliária o torne cada vez mais urbano. Ele acaba de postar em suas redes sociais um vídeo inspirado nos antigos casarões do bairro e que, entre o século 18 e começo do 20, chegaram a ser habitados por famílias inglesas. Preocupado com o desaparecimento de muitos dos antigos imóveis, o jovem preferiu recriá-los.  Em desenho e, depois,  fazendo um vídeo.

Há pelo menos seis anos – ainda era de menor, quando começou o seu interesse – ele se dedica não só a estudar a arquitetura da vida opulenta dos séculos passados em Apipucos, como também costuma coletar fragmentos de objetos que, muitas vezes, encontra na rua, em velhos quintais ou mesmo à margem do Rio Capibaribe, onde reside. E os quais pretende utilizar em um futuro não muito distante como objetos de estudo de conclusão de curso, mestrado, quem sabe… doutorado.

“O amor pelo bairro já vem dos tempos de criança. Vivi minha infância no meio desses casarões antigos, cresci brincando solto na beira do rio e pegando muitas frutas: manga, cajá, goiaba e jaca”, diz. Mas logo acrescenta: “Porém minha paixão pelo bairro foi através da descoberta arqueológica que me fez ter uma visão muito ampla sobre a sua história”, afirma. E complementa: “Isso me despertou o interesse de estudá-lo profundamente assim como toda cidade do Recife”, diz Antônio, que já concluiu o ensino médio, mas ainda não entrou na Universidade, onde pretende estudar História ou Arqueologia.

Antônio (foto) considera que Apipucos tem material de sobra que servirá de fonte de estudo. Seu interesse e as descobertas no bairro já lhe renderam reportagens no jornal O Globo (RJ) e no Jornal do Commercio (PE).  Antônio vem estudando o bairro em livros antigos que lhe são emprestados por amigos, ou por volumes presenteados,  como  o álbum O Fotógrafo Cláudio Dubeux, no qual são retratadas as famílias, os casarões, o modelo de vida daqueles tempos, quando o Capibaribe era um rio cristalino e as famílias abastadas se divertiam  às suas margens. “Confesso que amo muito o passado daqui, com o olhar voltado para a história de Apipucos, que além da riqueza de sua fauna e de sua flora, abrigou estrangeiros  que foram muito importantes para o desenvolvimento urbanístico da cidade”, diz.

Entre estes, cita Phillip Needham e Cláudio Dubeux”. O livro de Dubeux, aliás, foi uma das fontes utilizadas por ele, para recriar a lápis os casarões que tanto admira, cujos desenhos foram utilizados no vídeo. Ele passou um ano só pesquisando os imóveis antigos. E também se distraindo, ao usar programa de computador para “colorir” as fotografias  em preto e branco do passado. “Neste álbum eu cheguei a ficar impressionado com o tamanho e a quantidade de tantos casarões que existiam e que foram demolidos na segunda metade do século 20”. Com as demolições, se vão as lembranças e memórias. “As destruições me incomodaram tanto, que resolvi recriar o ambiente com meus desenhos”.

Fala, também, nas famílias inglesas que chegaram a ser descritas por Gilberto Freyre em livros sobre Apipucos.  O escritor lembra que as damas inglesas costumavam tomar chá, ao final das tardes, à beira do rio. “Foi uma emoção ver neste álbum, foto dos ingleses sentados no jardim após o jogo de críquete no início do século 20″, diz Antônio. “E também ver o mesmo local  onde essas pessoas viviam ali tão abertamente com a natureza  me trouxe a vontade enorme de retratar isso em desenho panorâmico mostrando a parte externa e os jardins dessas casas”.

E se enche de nostalgia: “Nesses jardins das famílias antigas eu  ia, ainda garoto,  jogar bola, sem nem imaginar que ali, há 150 anos atrás, ingleses viviam e davam suas festas e jogavam críquete”.   Para ele, o passado de Apipucos não se restringe aos velhos casarões. Aparece até sob nossos pés.   “Muitas vezes, após  fortes chuvas me deparei  com pedaços de louça, cachimbos e até moedas que afloraram da areia”. Algumas vezes, ele junta fragmentos que encontra e até recompõe as peças. Esta do lado foi jogada fora.  Desempenhava a função decorativa e de sustentação de um lustre. Pertenceu a um casarão ainda hoje habitado, mas os moradores não dão valor à peça antiga.

Eles a substituíram por uma tampa nova, de metal. Ele achou os pedaços no chão,recompôs e restaurou a peça. A  restauração costuma fazer empiricamente, com a vocação que Deus lhe deu, atividade cujo sonho é de trabalhar e se especializar.

Veja, agora, o vídeo que Antônio Gomes Netos fez (com seus próprios desenhos), em homenagem ao passa do do Bairrode Apipucos.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos:  Reproduções do livro “O fotógrafo Cláudio Dubeux”
Vídeo e desenhos: Antônio Gomes Neto
Obs: Algumas fotos foram coloridas por Antônio em computador

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