No último domingo, sacrifiquei a praia para fazer um passeio pelas ruas do Recife, que considero conhecer bastante, até porque participo sempre de vários grupos que exploram a cidade a pé, como o Caminhadas Domingueiras, o Olha! Recife, o Andarapé, o MeninXs na Rua, o Caminhadas Culturais. Sendo que agora integro mais um, o Bora Preservar, que é o braço criado para passeios de outro grupo, o Preservar Pernambuco, que está a caminho de se tornar uma organização não governamental, que deverá lutar pela preservação do nosso patrimônio histórico.
Pois a primeira caminhada do Bora Preservar foi muito curiosa: tinha o objetivo de mostrar para nós, o que o Recife já foi. Ou seja, os nossos primórdios, os arcos que já não possuímos, as fortalezas que se foram, as pedras de monumentos destruídos que se transformaram em meio fio, a ponte que girava e não gira mais. Essas coisas. A caminhada, idealizada por Denaldo Coelho, foi definida como “explicativa”. Mas não foi só isso. Foi, também, “ilustrativa”. Esclarecedora. Isso porque a cada lugar que chegávamos, nos era descrito cada monumento, como era a paisagem no passado (com exibição de fotos antigas) e o que aconteceu com ele. Voltarei ao assunto aqui, pois há casos que merecem postagens separadas.
E tivemos vários exemplos de como o Recife não cuida do seu passado. Um dos mais emblemáticos é a Ponte Giratória, que poderia ser uma atração turística se não tivesse sido destruída. Porque, como vocês podem observar na foto acima (acervo Fundaj), a Ponte Giratória girava mesmo, para facilitar a passagem das embarcações nas proximidades do Porto do Recife, quando a maior parte delas era formada de veleiros.
A ponte, ligando os bairros do Recife e de São José, foi construída no início do século passado por uma empresa francesa, a Societé de Consttruction du Port. Inaugurada em 1923, ela funcionou até a década de 1970, quando foi desmontada, e edificada uma outra em seu lugar (foto acima,à esquerda) chamada de Ponte 12 de Setembro, posteriormente chamada outra vez de Ponte Giratória, apesar de fixa.
É que a população jamais decidiu chamá-la com outro nome A nova ponte com outra denominação foi inaugurada em 1971, mas em 2003 um decreto da Prefeitura voltava a denominá-la de Antiga Ponte Giratória, que o povo abreviou para Ponte Giratória. Hoje, principalmente as gerações mais novas ficam sem saber a razão do nome da ponte que, há muito tempo, deixou de girar.
Hoje, restam apenas suas colunas no meio da água (foto à direita). Elas só são visíveis para quem a atravessa a ponte pé, ao lado dos antigos trilhos pelos quais passavam os trens levando carga para o porto do Recife. A ponte tinha três lances, sendo dois fixos e um móvel, o central. Quando ia girar, sirenes eram acionadas, e suas cabeceiras eram isoladas com correntes, para evitar acidentes. Que saudade do Recife!
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Texto: Letícia Lins #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins /Arquivo Fundação Joaquim Nabuco