Na última quarta-feira inauguramos aqui a Sessão Recife Nostalgia abordando o Restaurante Flutuante que animava as águas do Rio Capibaribe, no século passado, no Centro do Recife, com base em pesquisa de Emanuel Correia (foto abaixo). Dia seguinte, recebo a visita de duas tias maternas que lembraram do estabelecimento e até o descreveram. Hoje o nosso amigo e companheiro de caminhadas lembra a icônica Casa de Banhos, ponto de encontro que ficou famoso nas primeiras décadas dos anos 1900. E que além de servir para banhos de mar com conforto, tinha até sala de leitura. Ele é professor aposentado e integra vários grupos que andam a pé pelo Recife, incluindo o Caminhadas Culturais, que se caracteriza pela troca frenética de informações entre o presente e o passado não só do Recife mas de outras áreas de Pernambuco.
“Construída toda em madeira como moradia em 1880 pelo comerciante Carlos José Medeiros e depois transformada em ponto comercial com o nome de Grande Estabelecimento Balneário de Pernambuco, passou a ser conhecida como Casa de Banhos pelo público”, conta Emanuel, nas redes sociais do Caminhadas Culturais. Afirma que o Casa de Banhos surgiu em tempo em que a nossa medicina “ainda caminhava a passos lentos e os banhos de mar eram indicados nos tratamentos medicinais dos doentes da época”.
Em pouco tempo, a Casa de Banhos se transformaria em “símbolo de modernidade para os banhistas, já que na Europa o modelo tinha virado moda” e “o Recife não fugia à regra”. Emanuel lembra que em 1902, o estabelecimento foi comprado pelo inglês Sidney Rhodes que fez “uma grande reforma, aumentando o espaço para melhor atender à clientela”. E reforça: “A Casa de Banhos chegou a ter cinco banheiros, um salão grande, 102 compartimentos, salas de leitura, e atendia 350 pessoas por semana”. Em 1924, a Casa de Banhos foi destruída por um incêndio.
Quanto à razão do incêndio vou apelar, mais uma vez, para as memórias familiares. Contava meu avô materno, Plácido Araújo, que após o incidente rolou uma história segundo a qual o fogo teria sido colocado por mulheres da sociedade do Recife. É que nos anos 20 do século passado, a Casa de Banhos havia passado a ser frequentada por prostitutas e os homens buscavam lá não só o banho de mar, como também acertos para programinhas sexuais (meu avô não dizia se os encontros de alcova ocorriam lá mesmo ou em outros locais). Revoltadas e com ciúme, as mulheres teriam decidido colocar fim à farra dos maridos boêmios e infiéis. Essa história ouvi muito, durante minha infância. Relatava meu avô, também, que praticamente não havia acessos para Boa Viagem naquela época e que as famílias de classe média, inclusive a dele, veraneavam às margens do rio Capibaribe, em bairros como Várzea e Poço da Panela. A Casa de Banhos ficou na história e os mais idosos falavam dela com saudosismo. Em seu lugar, foi erguido um restaurante em sua homenagem com o mesmo nome do estabelecimento do passado. Dessa vez só para refeições, já que a área não é mais indicada para banhos. O restaurante Casa de Banhos – que ficou famoso pela sua visão privilegiada do Recife – fechou as portas em 2016.
Leia também:
Conheça o Recife através dos tempos
Que saudade da Rua Nova!
Os gelos baianos e a Revolução de 1930
Bonde vira peça de museu e trilhos somem do Recife sem memória
Aluga-se belo prédio na Rua do Bom Jesus
O charme dos prédios da Bom Jesus
Postal virou peça de museu
Lembram dele:? Ocaso do único prédio que teve duas fachadas simultâneas
A República e o estilo eclético no Recife
Recife, 482 anos: vamos de boi voador?
São José e Santo Antônio ganham livro
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Pesquisa: Emanuel Correia / Grupo Caminhadas Culturais
Foto: Internet