Não é tão bonita. Mas tem muito significado histórico. E a preservação de um imóvel antigo com presente e passado é sempre para se comemorar, nesse Recife de pouca memória. A tradicional garagem de remo do Náutico, localizada na Rua da Aurora, agora é Imóvel Especial de Preservação (IEP). A fachada branca e vermelha é parte da história centenária do time Timbu, que começou como uma agremiação de remo, em 1901. E é também parte da história do esporte no Recife. Com a decisão, de acordo com a Lei Municipal dos Imóveis Especiais de Preservação (Lei nº 16.284/1997), o local não pode passar por modificações estruturais que alterem as características originais.
No ano passado, chegou a circular nas redes sociais o modelo de uma nova fachada, mais moderna, que seria adotada pelo Clube. Segundo meu colega José Gomes Neto, que é expert em Náutico, a atual sede, no entanto, não é a original. A primeira sede de remo do time ficava na mesma Rua da Aurora, porém pertinho do Cinema São Luís. Mas isso não desmerece a “Garagem”. Pois o imóvel representa não só os primórdios do Clube Náutico Capibaribe, como também parte da história do esporte no Recife. A decisão já havia sido tomada no ano passado,, mas só agora foi oficializada pelo Prefeito João Campos (PSB). E a Aurora é uma das ruas icônicas do Recife, como também o é a que fica do outro lado do rio, a Rua do Sol. Mas é na Aurora que estão as duas únicas sedes de clubes de remo da área central da cidade: a do Náutico e a do Barroso.

Para o presidente do clube Edno Melo, a classificação da sede do remo como IEP contribui para a preservação da história da própria cidade. “Representa o resgate e a preservação da história do clube e a história do Recife. Esse decreto vem colaborar com a situação que o Clube Náutico vem construindo: resgatando a história, resgatando o orgulho de ser alvirrubro. E como a gente sabe o Náutico surgiu do remo, é uma instituição centenária, este ano o Náutico completa 120 anos, nada mais justo do que a gente receber esse tombamento como Imóvel Especial de Preservação num ano tão emblemático para a gente”.
A transformação da garagem de remo do Náutico em IEP foi aprovada em reunião do Conselho de Desenvolvimento Urbano da Cidade em 27 de novembro de 2020 e o decreto será publicado no Diário Oficial. Será o IEP número 263 do Recife desde a promulgação da lei. O objetivo da norma é preservar exemplares de arquitetura significativa para o patrimônio histórico, artístico e cultural da cidade, de forma a manter viva a memória da identidade do Recife. Ainda de acordo com a legislação, cabe ao proprietário da edificação manter as características originais do imóvel. Fica vedada a demolição, descaracterização dos elementos originais e alteração da volumetria e da feição da edificação original.
Segundo a lei, “as intervenções de qualquer natureza nos IEPs ficam sujeitas à consulta prévia e à análise especial por parte dos órgãos competentes do Município”. A história do remo em Pernambuco, no entanto, vem do século 19. Em 1897, era fundada no Recife a Associação Recreio Fluvial, que fazia passeios de barco pelo Rio Capibaribe. Em novembro daquele mesmo ano, os rapazes que compunham a Associação foram encarregados de preparar a parte náutica da recepção às tropas pernambucanos que haviam participado de combates em Canudos. A competição despertou entusiasmo e atraiu novos adeptos. Em 1898, já havia outras competições. Em 1901, cria-se uma nova agremiação de remo, o Clube Náutico Capibaribe. Só em 1909, o Clube adere a esportes terrestres, em assembleia realizada em 14 de julho daquele ano.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Redes sociais