Estive recentemente no Sertão, como já´disse a vocês aqui. Elogiei a arborização da cidade de Carnaíba, localizada a 417 quilômetros do Recife, onde não vi uma só árvore mutilada, ao contrário do que ocorre no Recife. Observei, também, que a poda é muito cuidadosa, evitando-se que a árvore tombe para um lado e morra depois da queda. Já na vizinha Afogados de Ingazeira – a 386 quilômetros da Capital – a polêmica está só começando. Motivo: a ameaça de morte de ipês na principal via urbana do município, a Avenida Rio Branco.
Os ipês estão lindos, cobertos de flores amarelas. Mas alguns deles vão sair do mapa. Tudo em nome da revitalização que vem sendo feita na Avenida, com o alargamento do canteiro central e implantação de ciclovia. “Vixe Maria, derrubar essas árvores é mesmo que matar uma pessoa”, lamenta Enoque das Plantas, enquanto vende mudas de árvores nativas na feira do município. Os tapumes, as escavações e a placa sobre a obra, acusam o risco. “Revitalização da Avenida Rio Branco. Valor da obra: R$ 326 mil 715. Objeto: contratação de empresa de engenharia para executar os serviços de revitalização na zona urbana do município de Afogados de Ingazeira”.
A empresa contratada para modernizar – digamos assim – a Avenida é a Executar Energia e Serviços Ltda. A obra teve inicio em agosto desse ano e deve ser concluída a 30 de agosto de 2018. Até lá, os ipês vão rolar. Ainda não se sabe quantos. Falei com o Prefeito, José Patriota, e ele confirmou que algumas árvores terão que ser sacrificadas. “Estão em lugares impróprios, danificando os canteiros, mas faremos tudo com o maior cuidado, para que o prejuízo seja o menor possível”.
Menor possível? Uma árvore a menos, no entanto, é sempre um grande prejuízo. Porque até que a substituta cresça e desempenhe o mesmo papel na natureza da adulta que se foi, leva um tempão. Moradores da Avenida dizem que farão protesto se qualquer árvore for derrubada. Por enquanto, elas estão lá, lindas e floridas, dando um colorido especial à paisagem muitas vezes inóspita e escaldante do Sertão. Sem elas, o calor ferverá na Rio Branco. Salvem os ipês, por favor.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife