Ao passar hoje, no centro, contemplei a esquina da Rua Primeiro de Março com a da Rua do Imperador, onde antes havia o famoso Café Lafayette. A casa fez história entre os anos 1920 e 1930. Era ali que a sociedade se reunia – incluindo políticos – para saber das novidades que rolavam na capital que, àquela época se inspirava na arquitetura, na moda e em costumes franceses. O Recife imitava Paris.
O Café Lafayette na verdade se chamava Continental, mas ficou mais conhecido por aquele nome porque ali funcionava, também, um depósito de cigarros da marca Lafayette, naqueles tempos em que o tabaco tinha o seu glamour, fosse no cachimbo, no charuto ou no cigarro. Os cafés do Recife tiveram tanta importância na sociedade de então, que posteriormente geraram até trabalhos acadêmicos.

Dois deles: Os antigos cafés do Recife, a sociabilidade na capital (1920-1937), do historiador Carlos André Silva; e Restaurantes e Cafés: Os lugares das sociabilidades e gastronomia na segunda metade do século 19, de Elisa Brito Santos, com recorte entre 1850 e 1899. Ela mostra como eles funcionavam, o público que os frequentava e a importância que os cafés passaram a ter na sociedade pernambucana, quem eram seus frequentadores de acordo com os horários.
Mas do antigo e belíssimo prédio do Café Lafayette, infelizmente só restou o pó. Por incrível que pareça, o que foi construído no seu lugar é esse monstrengo de paredes pretas, aí da foto central, prédio que hoje é apenas decadência. Aliás, um horror. São prédios como esses que contribuem para descaraterizar a cidade, roubar-lhe a personalidade e emprestar o aspecto de decadência ao centro da nossa cidade. O Recife é, sim, uma cidade bonita. Mas aos poucos, infelizmente, exemplos como este vão destruindo seu passado em nome de um presente sem futuro.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e acervo #OxeRecife