“Riacho” Parnamirim ainda tem jeito

Olhem para a foto acima. É o Riacho Parnamirim, com margens floridas, no trecho que corta o terreno do Plaza Shopping, no bairro de Casa Forte. Mas se vocês observarem direitinho, a água é uma massa escura e poluída, naquilo que hoje chamam de canal, prejudicado pelo despejo de lixo e esgoto ao longo dos seus 1.100 metros de extensão. Será que ele ainda tem jeito? Tem. Pelo menos é o que garante um especialista no assunto, o Professor Jaime Cabral, titular da cadeira de Drenagem Urbana, no curso de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco.

Dos cem riachos do Recife – hoje transformados em  canais, na verdade esgotos a céu aberto – o Professor acredita que o Parnamirim é o mais fácil de recuperar. Soube disso há alguns dias, durante a revitalização do Largo do Holandês, capitaneado pelo Grupo Casa Forte Mais Segura. Além de humanizar a área com plantio de árvores nativas os moradores do bairro da Zona Norte, querem, também, a limpeza do riacho que, no passado, era uma das diversões da garotada das redondezas que iam lá pescar e mesmo se refrescar. O riacho nascia no sopé de morros do bairro do Monteiro, passava pelo que é hoje a Estrada das Ubaias e desaguava, como ocorre ainda hoje, no Rio Capibaribe. Eu, que passava ao seu lado todo dia, quando ia ao Colégio, lembro de sua água ainda limpinha.

Na Estrada das Ubaias, ele foi suprimido. E diz o Professor que este é um dos motivos porque aquela via alaga tanto, durante o período invernoso.  O trecho que sobreviveu vai da Rua Jerônimo de Albuquerque ao Capibaribe, passando por baixo da Ponte Viaduto Torre-Parnamirim. Para o especialista, é fácil recuperar o riacho. Isso porque Casa Forte já tem boa parte saneada e a população vem se mobilizando em favor de ações de defesa do meio ambiente. É pressionar a Compesa e sua parceira – a BRK – para sanear o bairro, mobilizar mais ainda a população e também desenvolver ações de educação ambiental no entorno do riacho.  E é necessário, segundo ele, pressionar a Prefeitura para que urbanize as laterais do Parnamirim, o que garantiria maior cuidado, por parte da população. Porque no Recife é assim, se um suja a rua, cem se acham no mesmo direito de emporcalhar calçadas, vias, terrenos, rios, canais.

“No Largo do Holandês, revitalizado e com o plantio de árvores, as pessoas já deixaram de jogar lixo no local”, comenta o professor, que também ensina drenagem hidráulica e urbana na Politécnica. É verdade que áreas bem cuidadas, verdes, floridas, inibem descartes indevidos. Minha experiência, andando pelas ruas, mostram isso. É só observar a diferença entre as áreas cuidadas (na iniciativa privada ou comunitárias) e as abandonadas pelo poder público. No primeiro caso, é difícil observar alguém jogando entulho ou sujeira no “canal”.  No segundo, pode-se observar o mesmo comportamento, inclusive em outras experiências, na própria Zona Norte.  Quanto ao Parnamirim, ele não recebe tanto lixo nos limites do Plaza. Mas a situação muda próximo à Comunidade do Vintém e ao Conjunto Lemos Torres, onde o Parnamirim virou depósito de lixo.  E ao lado de uma construção de um edifício, até tentaram barrá-lo com uma viga, o que não deu certo e ele segue seu caminho. Vamos torcer, portanto, para que não só o Parnamirim, mas também o  Canal do Arruda, o Guarulhos, o Jordão, o Riacho Sítio dos Pintos, o Córrego da Fortuna e muitos outros, voltem à situação original.

Vejam algumas situações do antigo Riacho Parnamirim, que hoje a população chama de Canal:

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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