Revolução de 1817, “subversão” que virou orgulho dos pernambucanos

Se hoje não fosse domingo, seria feriado  estadual em Pernambuco. A Data Magna foi instituída em 2017, durante as comemorações do bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817, levante que tornou o estado em nação independente por 74 dias. Não muito lembrada nos livros didáticos adotados no resto do país, o movimento é considerado pelo historiador Oliveira Lima (1867-1928) como “a maior da revoluções brasileiras”. Um feito que até hoje orgulha os pernambucanos, embora os seus líderes tenham amargado o “exílio”, já que 200 foram enviados para prisões na Bahia, enquanto cerca de 800 soldados foram obrigados a viajar para combate no Uruguai, de onde quase nenhum voltou.

A Revolução de 1817 teve um feito inédito. Foi a primeira vez, desde a fundação de Portugal – em 1140 – que “o poder absoluto do rei fora  enfrentado e vencido pelos democratas, ao menos por algum tempo”, lembra o jornalista e historiador Paulo Santos, autor de dois livros gostosos, lúdicos e que reproduzem os fatos daquela revolução, que chega a ser tida como a segunda restauração pernambucana, depois da expulsão dos holandeses. Porém nenhuma outra revolta anticolonial tinha ousado tanto na história da colonização portuguesa, como a de 1817.

A revolta e nossos rebeldes jamais serão esquecidos. Nem na nossa mente nem nos livros didáticos e nas atividades escolares. O #OxeRecife lembra duas leituras lúdicas e divertidas, porém com rigor histórico, ambas de Paulo Santos de Oliveira: A Noiva da Revolução e Seis de Março. O primeiro para adolescentes ou adultos. O segundo para crianças, mas que também emociona adultos. Além de contar a saga  amorosa do revolucionário Domingos Teotônio e sua noiva Maria Teodora, os dois livros nos apresentam, também, um desfile dos nossos heróis, o idealismo dos revoltosos, quem foi o verdadeiro Leão Coroado e outros fatos pitorescos que ainda hoje, mexem não só com nosso espírito cívico como também com nosso imaginário. O livrinho Seis de Março, além de descrever os motivos que deflagraram a Revolução, ainda traz  – ao final – informações preciosas, que muito enriquecem o conhecimento não só das crianças como também de adultos.

 

Mostra como era a América em 1817, os heróis e mártires da Revolução de 1817. Também oferece informações sobre a importância da História. O livrinho (foto acima) também traz uma cronologia da rebelião e as “ideias francesas”  (iluminismo) do século 18, que teriam influenciado os nossos rebeldes. Outro livro divertido, que aborda a Revolução de 1817, é o 101 Manias de Grandeza de Pernambuco, do professor Evandro Duarte de Sá. Ele fala e outras rebeliões, como a Guerra dos Mascates (1710), quando foi dado “o primeiro grito de independência do Brasil”, embora a de 1817 seja descrita por ele e outros autores como “a maior revolução do país”.Evandro mostra, também, o Areópogo de Itambé, onde funcionou a partir de 1796 “a primeira escola revolucionária brasileira” (na verdade em uma Loja Maçônica). Itambé fica na Zona da Mata, a 92 quilômetros do Recife.

Na manhã desse domingo, o governador Paulo Câmara (PSB) comandou , no Palácio do Campo das Princesas, a solenidade em comemoração à Data Magna de Pernambuco, dia em que é celebrada a memória daqueles nossos heróis. Além do hasteamento das bandeiras do Brasil, de Pernambuco e da Insígnia do Governo, ele também fez a aposição de uma coroa de flores no Monumento aos Heróis da Revolução, escultura do artista plástico Abelardo da Hora localizada na Praça da República, em frente ao Palácio.

“São 205 anos desde a revolução de 1817, e é sempre bom relembrarmos os momentos em que Pernambuco clamou por liberdade, justiça e independência. Isso fortalece os laços das nossas tradições históricas de luta contra as desigualdades. A Data Magna é uma oportunidade de mostrar às novas gerações de pernambucanos o significado dessa data tão importante para o nosso Estado”, destacou Paulo Câmara. Autoridades civis, militares, religiosas e até da Maçonaria estiveram presentes à cerimônia. A Maçonaria teve papel importante junto aos  revolucionários de 1817.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Hélia Scheppa/SEI e Letícia Lins

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