São tantas as crenças,práticas e superstições na virada do ano… Tem gente que coloca sal grosso atrás das portas. Há aqueles que guardam sementes de uva na carteira, para chamar dinheiro no ano que se inicia. Há os que usam roupas amarelas para atrair riquezas. Outros não rompem o ano sem romã na mesa. Na Bahia, relata meu amigo e antropólogo Fernando Batista, é muito comum colocar-se galhos de pitangueira em vasos durante o réveillon. Cada qual com sua mandinga. Eu não tenho nenhuma dessas. Não uso roupa nova, não faço nada para chamar dinheiro nem apelo para alguma cor por seus significados.
Mas cumpro, sim, um ritual todos os anos. E ele começa no dia 31, quando vou à praia, religiosamente, para o que chamo de “descarrego” (de forma empírica). Sempre penso que um mergulho no último dia de dezembro nos faz deixar no mar todas as mazelas do ano que findou. Da praia vou direto ao Santuário da Conceição, onde rezo meu terço, “converso” com a Santa, e peço paz, saúde e coisas boas para os amigos, os parentes e para todo mundo. Depois, rompo ano com os três filhos. Ou, pelo menos algum deles, quando rola viagem ou outra programação.
Aí, no dia 1 de janeiro, acordo cedinho, vou caminhar na praia e dar outro mergulho na água do mar. Porém, já não mais para “descarrego”, mas para “carregar” as energias para o ano que se inicia. Sempre acho que o banho de mar no primeiro dia do ano é sagrado. Não passo sem ele. Só não fui em 2021, devido à pandemia. Pela segunda vez consecutiva, a orla da Zona Sul do Recife – Pina e Boa Viagem – amanheceu rigorosamente limpa: sem embalagens PET ou de vidro (champanhe, vinho, cerveja) pelo chão. Também não vi restos de comida que atraem os ratos.
Rompi em Boa Viagem, na casa de minha filha Juliana, e vi que tinha gente na areia, mas não na mesma proporção de anos sem pandemia. A areia, com a maré baixinha, estava limpa, porque sem show nem festa, não foram tantas as pessoas que acorreram à praia para ver o show pirotécnico. Não teve festa, mas quando a maré começou a subir, os plástico que ficam flutuando na água começaram a dar na areia, como ocorre em qualquer época do ano. Uma tristeza….
Agora, infelizmente, temos encontrado mais um tipo de lixo nas areias ou nas escadarias que conduzem à praia. E é um lixo totalmente insalubre: máscaras de proteção contra a Covid-19, o que é muito triste. Demonstra o grau de irresponsabilidade, falta de educação doméstica e de senso da coletividade de nossa população. Muito triste, isso.
O show pirotécnico na orla foi muito bonito, porém a promessa do espetáculo totalmente silencioso não se realizou.
Houve estampido sim, embora em menor proporção do que nos anos anteriores. De qualquer forma, é muito salutar que a prefeitura se preocupe com a poluição sonora. Gostaria muito, mas muito mesmo, que essa preocupação se estendesse pelo resto do ano, com muita fiscalização. Não com estampidos – que pipocam, mas param logo – mas sim com bares, restaurantes e casas de festa, que durante intermináveis madrugadas tripudiam com a paciência da população com a conivência do poder pública, que se omite de fiscalizar e punir. E não é só de noite não…
Dêm uma voltinha em áreas de comércio popular – como Casa Amarela e Afogados – e digam o que acharam. Cada casa comercial que coloque um som mais alto na calçada, para anunciar suas promoções. Em Casa Amarela, a fiscalização para evitar que as calçadas sejam ocupadas tem sido permanente. Já a poluição sonora…. Deus nos acuda! Em bairros antes só residenciais, como Casa Forte e Apipucos, tem morador comendo o pão que o diabo amassou. Eu, inclusive. Principalmente nos finais de semana, quando tudo que a população precisa é silêncio nas horas do descanso.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Daniel Tavares (PCR) e Letícia Lins (OxeRecife)