“São animais nojentos, que se divertem na podridão”. Dizem que foi assim, que Charles Darwin definiu os urubus, em sua histórica visita à América, em 1832. Hoje, 185 anos depois, sabemos que não é exatamente assim. Apesar de mal compreendido e associado a coisas sujas, o urubu tem uma importância enorme na natureza. Talvez seja um dos seus principais faxineiros, porque o urubu deixa os ambientes limpos, eliminando carcaças e ossos de animais mortos.
Falam os especialistas que eles dão fim a mais de 90 por cento das carcaças que encontram, ajudando, portanto, a prevenir doenças. À medida que ele tira carnes podres do chão, evita que o ambiente se contamine, que as bactérias fiquem circulando. Poupam, assim, pessoas, animais silvestres e domésticos de uma série de doenças. Lembro que quando era criança, a gente via muitos urubus voando, mesmo no Recife. Nos desenhos infantis, eles costumavam ser reproduzidos como um V, preto, só que mais aberto, sobre o mar ou sobre as montanhas. Eram parte da paisagem.
Não tenho visto esses animais em grandes quantidades como antigamente. Só em uma capital, os avistei em profusão, em tempos recentes. Foi em Belém, no Pará, onde eles ficam em busca de vísceras e pedaços descartados de peixes, perto do Mercado Ver o Peso. Também os observava nas proximidades dos lixões e sobretudo no Sertão, quando a seca matava o gado de fome e sede, e as carcaças se espalhavam à beira das estradas. E porque o #OxeRecife está falando desse “animal nojento”? Para pedir às pessoas que os poupem de maus tratos. Nós precisamos deles. E muito. Mas infelizmente os urubus são mal compreendidos, tidos como porcalhões, quando o que acontece é o contrário. Eles limpam, ao invés de sujar.
E porque falo do urubu? Pensei que ninguém maltratava o urubu. Mas maltratam, sim. Vi ao vivo, um exemplo do que o “urubu” humano é capaz de fazer. Há alguns dias, estive no Centro de Triagem de Animais Silvestres, o Cetas Tangara, no bairro da Guabiraba, onde cerca de 600 animais encontram-se em preparação para reintrodução à natureza. Entre eles, no entanto, há um que não pode voltar à vida selvagem. É justamente um urubu, que sofreu uma fratura na asa e não pode mais voar. Alguém lhe atirou uma pedra. Sem tratamento à época, o osso calcificou. E o bichinho não sai mais do chão. Virou o mascote informal do Cetas (o oficial é o tangara). O Cetas é a entidade da Cprh, que acolhe bichos silvestres. Não entendi, porque o urubu não voava e, andando pelo chão, veio logo dar bicadas nas unhas do meu pé. Pensei que ele queria comê-las e achei estranho que estivesse no solo. Fiquei temerosa, achando que o urubu poderia estar doente, transmitir alguma enfermidade. Era engano. Sem voar, o pretinho queria só brincar. Segundo os biólogos que trabalham no Cetas, a ave adora desamarrar o enfiador de nossos tênis com o bico, só para se divertir.Tadinho….
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife