“Resíduos deixados no manguezal são como garrote na veia: gangrenam o corpo”

Seria bom que, em 2019, cada habitante do Recife prometesse a si mesmo e à cidade: “Não vou mais jogar lixo no Rio Capibaribe”. Se isso acontecesse, ainda sobraria uma responsabilidade imensa para o poder público, já que apenas 30 por cento do esgoto produzido no Recife é devidamente recolhido, restando ao que sobra ser jogado em riachos, rios, canais e no mar. Um horror, em pleno século 21. Mas se cada recifense fizesse a sua parte já seria meio caminho andado. Fiquei muito triste durante a última edição de nossas Caminhadas Domingueiras, cujo ponto de saída era o Cais da Alfândega, no Bairro do Recife. A maré estava baixa, e só vi lixo depositado sobre o leito de lama do Rio. Nem um bichinho da fauna local correndo no mangue.

Lembrei, então, do Capibaribe da minha infância.  Pois quando a maré baixava, o que a gente via eram caranguejos correndo, de todos os tamanhos e em todas as direções. E isso em uma época que o Capibaribe já sofria sim, os efeitos da poluição. E eles  saíam das tocas como as formigas do formigueiro: aos montes. Hoje, o crustáceo é importado de outros estados em sua maior parte. Porque os daqui estão cada dia mais escassos. E, com certeza, a culpa não é só da pesca predatória. Mas do excesso de lixo. Quem vê o leito do Capibaribe assim, tão sujo, não imagina o quanto é inglório o trabalho de limpeza. Para se ter uma ideia da “contribuição” da população à natureza, só a Emlurb recolhe nada menos de 216 toneladas anuais de detritos naquele que de veríamos tratar não como um lixão e esgoto, mas sim como um querido patrimônio.

É uma pena que o Rio Capibaribe seja tão agredido pelos recifenses.  Vamos evitar cenas como essa da foto em 2019?

“Resíduos deixados no manguezal são como um garrote na veia, gangrenam o corpo”, afirma o pescador Augusto Guimarães, Presidente da Colônia de Pesca Z1. Seria interessante que essa colocação dele nos servisse de reflexão. “Os nutrientes não passam e as plantas estrangulam”, adverte.  A Emlurb  mensalmente faz operação de retirada de detritos dos manguezais do nosso “Cão sem plumas”. A média de resíduos coletados, por ação, chega a dez toneladas. Ou seja 120 toneladas ao ano.  Já o Ecobarco retira 96  toneladas anuais de detritos do rio. E 216 toneladas de lixo no nosso rio, tão lindo, sinceramente, é muita coisa, resultante da maldade humana. Com o lixo, vão-se os peixes, os moluscos, os crustáceos, a vegetação.

O trabalho mensal  de coleta ocorre em vários locais: perto da Casa da Cultura (entre a Ponte Velha e a Ponte Boa Vista; ao longo do Cais José Estelita e também na Avenida Prefeito Artur Lima Cavalcanti (que é a continuação da Rua da Aurora, em direção a Olinda). Também há coleta em frente ao Paço Alfândega, e ainda ao longo da Rua da Aurora (no trecho compreendido entre a Rua da Imperatriz e a Avenida Norte). Outras áreas que passam por limpeza sempre são o Cais José Estelita, Cabanga e nos bairros da Jaqueira e Poço da Panela (ambos na Zona Norte).  Há, ainda, o serviço de limpeza dos resíduos flutuantes do Rio Capibaribe, que é realizado pelo Ecobarco. O equipamento atua, de segunda a sábado, em todos os trechos, com cobertura de 35 quilômetros. E pelo que se observa, a população não toma mesmo jeito: garrafas plásticas, móveis. Até equipamentos domésticos  como colchões (foto), computadores, capacetes de moto, animais mortos, tudo se joga no rio.  Vamos, pois, deixar o nosso rio limpo em 2019? Entre os seus planos, para o próximo ano, por favor coloquem este: não jogar nada no Capibaribe. Prioridade número 1.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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