Em um país onde a história de milênios se derrete em um incêndio (como ocorreu com o Museu Nacional do Rio de Janeiro) e a memória nem sempre é preservada como deveria, não custa nada fazer o registro do projeto A História nas Paredes, do Instituo Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Hoje foi cumprida nova etapa, com a inauguração do mais novo painel do projeto, afixado na esquina das Ruas Sete de Setembro com Martins Júnior, no bairro da Boa Vista.
E por que foi escolhido esse local? Por dois motivos. Primeiro, porque o antigo Beco do Camarão, ganhou o nome Martins Júnior (1860-194), em homenagem ao jurista, professor, poeta, deputado federal, que destacou-se em defesa da abolição. E que foi, também, membro de duas academias (a Brasileira e a Pernambucana de Letras), e do próprio IAHGP. Mas a placa não é só por causa disso. Por sugestão do Professor, escritor e historiador Jacques Ribemboim (na foto, de quipá), ela assinala que “nesta rua foi construída a Synagoga Israelita da Boa Vista, em 1926, principal núcleo aglutinador dos judeus do Recife”.
“Após um período de inatividade, foi reinaugurada em 2006 e trazidos de volta os rolos da Torá (Bíblia Judaica), passando a se chamar Associação Cultural Synagoga Israelita do Recife”, explica o professor, também membro do IAHGP. Depois de colocada a placa, houve visitação à Synagoga, que não é tão famosa quanto a Kahal Zur Israel, que fica na Rua do Bom Jesus, Bairro do Recife, e que foi primeira oficial dos judeus que habitaram as Américas no século 17. Mais recente, a da Boa Vista tem, no entanto, sua importância histórica, por conta da presença maciça de judeus naquele pedaço do Recife, no início do século passado. “É o último representante físico da efervescência judaica no Bairro da Boa Vista, até a década de 1980”, afirma Jacques.
O Projeto A História nas Paredes foi sugerido pelo Vice-Presidente do IAHGP, Sílvio Amorim (de terno cinza), inspirado em um modelo que ele presenciou em Portugal. A ação é realizada em parceria com a Prefeitura, porém sem ônus para os cofres públicos. Os painéis são financiados por pessoas físicas ou jurídicas Em troca, elas ganham registro pelo “apoio cultural”. Até o momento, cerca de 140 já foram afixadas, de acordo com Amorim, que é coordenador do Projeto. Os painéis são em azulejos, têm 60×80 centímetros de tamanho e custam, em média, R$ 1.500. “Esse projeto é uma exposição histórica permanente, pois os azulejos fixados têm durabilidade infinita, estado salvo das intempéries e do vandalismo, pelas características do material”, afirma. Caso você ou sua empresa queiram financiar o próximo painel do Projeto A História nas Paredes, é só fazer contato pelo telefone 991337881. A de hoje foi bancado pela Comunidade Israelita de Pernambuco. O chamado apoio cultural fica registrado em cada painel.
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Identificação da foto, da direita para a esquerda – Jacques Ribemboim, Harlan Gadelha, Letícia Lins (do #OxeRecife), Sílvio Amorim e George Cabral (respectivamente vice e presidente do IAHGP)