O #OxeRecife está de olho nas coisas boas e também nas ruins da nossa capital. Criticamos a degola de nossas árvores, o abandono das praças, a sujeira das ruas, a degradação do centro da cidade, mas também não nos furtaremos em mostrar iniciativas que podem servir de exemplo, principalmente quando o objetivo é a formação da cidadania. Nesses tempos de violência e com o país em trauma com o massacre de Suzano (SP), gostaria de falar do Centro Comunitário da Paz (Compaz), já que o primeiro a ser implantado, o Eduardo Campos, foi o escolhido para o corte do bolo de aniversário dos 482 anos do Recife. Com certeza, para dar visibilidade ao modelo, cujos resultados já são comemorados nas estatísticas oficiais de segurança. Por aquele Compaz, que fica no Alto Santa Terezinha (Zona Norte do Recife) passam nada menos de 3 mil pessoas por dia, que recebem vários tipos de atendimento.
Funcionando há exatamente três anos – foi inaugurado no dia 12 de março de 2016 – o Compaz já é apontado como principal ferramenta para reduzir a violência naquele e em outros altos do Recife. De acordo com a Secretaria de Defesa Social, o índice de CVLIs (crimes violentos letais intencionais) caiu 27,3 por cento entre 2016 e 2017 no Santa Terezinha. E o que é melhor: em 2018, não houve um só assassinato no bairro. E isso é ou não para se comemorar? Na verdade, o Compaz Eduardo Campos atende à população de seis bairros: Bomba do Hemetério, Água Fria, Alto Santa Terezinha, Beberibe, Dois Unidos e Linha do Tiro. De acordo com o Secretário de Segurança Urbana, Murilo Cavalcanti, o índice de CVLIs chegou atingir 69 em toda aquela área, em 2012. Em 2018, a redução era de 34 por cento, nos seis bairros somados em relação ao estarrecedor índice encontrado naquela ocasião. O Compaz foi inspirado no célebre modelo implantado em Bogotá e Medellin, porém com algumas modificações.
Na Colômbia, esses centros para reduzir a violência se transformaram em referência mundial. Medellin era tida como a cidade mais violenta do mundo (380 absurdos homicídios por 100 mil habitantes), passando da capital mundial da violência a uma espécie de “laboratório da paz”, como preferem chamar estudiosos do sistema . O modelo implantado no Brasil, no entanto, difere um pouco do colombiano. Isso, porque lá foram providenciados três tipos de equipamentos em áreas pobres e violentas, como forma de assistir e transformar a população. Em separado, esses equipamentos desempenham as seguintes funções: empreendedorismo (desenvolvimento de negócios, com capacitação, crédito, orientação); casa da justiça (acesso ao sistema judiciário e mediação de conflitos, para pessoas pessoas pobres); e , por fim, parques e bibliotecas, onde podem ser desenvolvidas várias atividades culturais, esportivas e recreativas. E onde se motiva, também, o hábito da leitura.
No Recife, o Compaz congrega em um só prédio, a oferta desses e outros tipos de serviços. Tem um Cras (Centro de Referência e Assistência Social), onde a população pode se inscrever em serviços da rede de proteção social (bolsa família, auxílio maternidade, auxílio moradia). Há, também, setor para mediação de conflitos, Procon, agência de trabalho, Junta Militar (para alistamento nas Forças Armadas), atendimento psicológico, representação de Secretaria da Mulher. E ainda: atividades esportivas, que vão da hidroginástica e da natação, ao futebol e ao basquete, e às artes marciais. Também há aulas de dança popular, balé clássico e street dance. Atividades relaxantes – como ioga, tai chi chuan, biodança – também são ofertadas. A biblioteca possui 850 metros quadrados, tem 15 mil livros e é frequentada, pelo menos, por 350 pessoas por dia. Segundo Murilo Cavalcanti, os resultados são tão promissores que a Prefeitura até já recalculou o número da oferta pretendida de unidades do Compaz. Seriam cinco, mas o objetivo foi ampliado para sete. Dois já estão em funcionamento – o Eduardo Campos e o Ariano Suassuna – e um terceiro encontra-se em implantação, no bairro do Coque, um dos mais marginalizados do Recife. De acordo com a Prefeitura, 70 por cento das obras estão concluídas. A construção, no entanto, passou um tempão parada por falta de dinheiro. O próximo passo será implantar unidades na Várzea, no Pina, Ibura e Caxangá.
Leia também:
“Jaula” contra o vandalismo em parque
Cadê o policiamento das praças?
Segurança: soldados não se aposentam
Medo em volta do Cais do Imperador
Segurança preocupa no Litoral
A “guerra civil” de Pernambuco
Guerra urbana e turismo
Que tal o turismo nos morros coloridos?
Secretário não sabe o nome de aplicativo contra ladrão
Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos: Divulgação/ PCR