É uma pena que um dos patrimônios do Recife e principal responsável pela identidade da nossa Capital, o Rio Capibaribe, esteja tão degradado. Infelizmente, boa parte da degradação deve-se sobretudo a anos de omissão do poder público, que não cuidou do saneamento como deveria. E o “Cão sem plumas” transformou-se em um esgoto a céu aberto. É muito triste, quando a gente ouve depoimentos de pessoas com mais de 80, que relatam os deliciosos banho na “praia” do Capibaribe, entre os bairros de Poço da Panela, Monteiro, Apipucos e Várzea, quando relatam a “areia branquinha” de suas margens. E compara com o que se vê hoje. É que em pleno século 21, como se a poluição por esgoto não bastasse, a própria população encarrega-se de fazer nele todo tipo de descarte: do lixo doméstico a animais mortos, de capacete de motociclista a carcaças de TV, computador e geladeira. Triste, não é?
E peixe, caranguejo, camarão, sururu, estão cada dia mais raros, conforme relatam as populações ribeirinhas, que costumavam extrair parte de sua alimentação do Capibaribe. Muitas vezes, a principal parte da dieta. Segundo informa a Prefeitura do Recife, diariamente o ecobarco do município atua na limpeza. Ele tem capacidade para coleta de 240 quilos de resíduos e está trabalhando todos os dias, dando inclusive suporte para a ação de coleta também nos manguezais. Houve época, como na gestão passada, que esse barco tinha atividade tão rara que quando acontecia, a Prefeitura convocava a imprensa para documentar (ver primeiro link no Leia também). Felizmente, agora, a coleta é mais regular. E, pelo visto, ainda não é suficiente. Talvez fosse necessário um número maior de embarcações atuando simultaneamente, para melhorar a situação do Rio que, com suas pontes, forma um dos principais cartões postais da cidade.

Segundo o Prefeito João Campos (PSB) – que na semana passada acompanhou o trabalho de limpeza a bordo do ecobarco – a atividade está inserida no Programa Recife Limpa, que recentemente teve ampliada sua frota terrestre. Já da ampliação da fluvial…. não se tem notícia. Ele informa que a área situada próxima ao Cabanga Iate Clube é uma das quais onde há maior concentração de resíduos.“A Prefeitura está investindo na limpeza urbana e eu aproveito para pedir a colaboração de todos os recifenses para fazerem o descarte correto do lixo”, apela. No entanto, se o cidadão for ver de perto a situação do Capibaribe, há trechos onde há acúmulo de metralhas às suas margens, resultantes de obras da própria Prefeitura. O que é muito triste, partindo-se de quem tinha que dar o exemplo.
As intervenções para a limpeza de manguezais acontecem em frente ao Cais da Alfândega, ao longo da Rua da Aurora, no trecho compreendido entre a Rua da Imperatriz e a Avenida Norte, beneficiando também a vegetação que fica em frente à Casa da Cultura, o Cais José Estelita, no Cabanga e nos bairros da Jaqueira e Poço da Panela. Há ainda o trabalho de limpeza dos resíduos flutuantes do Rio Capibaribe. Segundo a PCR, o equipamento atua nas margens de todos os trechos navegáveis do rio, dentro do município do Recife, incluindo as ilhas do Centro do Recife, a Zona Norte até a BR 101, e na bacia do Pina e seus afluentes. A cobertura é de aproximadamente 35 quilômetros. A maioria do lixo removido é composto de garrafas plásticas, a verdadeira praga para o meio ambiente, desde o século 20 e cuja influência se agravou, no século 21. Em algumas ocasiões, também são encontrados colchões, móveis, sapatos e peças de aparelhos eletrônicos, como televisores e computadores.
O Recife Limpa, lançado neste ano, é um conjunto de ações da Prefeitura do Recife para ampliar a coleta de lixo na cidade e fomentar o descarte correto. Porém a parte educativa deixa muito a desejar. Os coletores espalhados pelas ruas – os chamados ecopontos, por exemplo- não possuem compartimentos distintos para a separação do material, já na fonte do descarte. É tudo junto e misturado, o que não é uma boa ideia. Nas casas de festa e nos grandes condomínios, também ainda não se observa a separação de materiais reutilizáveis, como deveria. Pela manhã, as calçadas de vias como a Dezessete de Agosto é comum se observar caixas, vidros, latas de bebidas, tudo misturado à espera do caminhão da coleta, quando o ideal era que o material fosse devidamente separado, para facilitar a vida dos catadores. E desafogar, portanto, o trabalho da frota urbana de limpeza.

De qualquer maneira, vamos dar um prazo ao atual Prefeito, que pegou o Recife virado pelo avesso, já que seu antecessor foi um dos piores gestores que a cidade já teve. Nunca me esqueci dessa imagem acima, que testemunhei um dia, quando levei um amigo turista ao bairro de São José. Isso na Praça Dom Vital, em frente à Igreja da Pena e ao secular Mercado de São José. Pensem em uma vergonha…. Tenho andando pelo centro, e a limpeza melhorou um pouco. Mas ainda há muito o que fazer nesse setor, ao qual voltaremos em uma outra postagem. Segundo a PCR, com o Recife Limpa, estão sendo ampliadas as ações de capinação e raspagem de sarjetas, varrição manual de vias, lavagem e desinfecção de logradouros, pátios de mercados e feiras livres e coletas com triciclos e caminhões de pequeno porte, entre outras atividades. A cidade do Recife contava com um efetivo de 3 mil pessoas envolvidas no trabalho de coleta e limpeza da cidade. “Com o Recife Limpa, o serviço ganhou um incremento de 10% de efetivo, com mais 305 trabalhadores. A varrição, cuja capacidade era de 11,5 mil km mensais, saltou para 21,4 mil km mensais”. Vamos, portanto, aguardar o resultado incluindo não só a limpeza do centro, mas dos rios e canais e também dos altos da cidade.
Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins / Acervo #OxeRecife e Alessandro Potter/PCR