Recife: calçadas e ruas “assassinas”

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Gosto muito do Recife e, também, de andar pelas suas ruas. Mas estou quase trocando o hábito da caminhada pela natação. Isso porque na piscina não tem perigo de torcer ou mesmo fraturar o pé. A cada dia, me convenço mais de que nossa querida cidade, decididamente, não foi feita para andar. Não dá conforto nem segurança para se caminhar. Eu, por exemplo, já perdi as contas das vezes que machuquei o pé devido a calçadas e asfalto assassinos. Só no gesso, já foram cinco vezes. Na última, 40 dias com o pé imobilizado e uma semana sem colocá-lo no chão, por conta de uma fratura na fíbula, devido a um desnível de calçada, na Rua Jacó Velosino, em Casa Forte, na Zona Norte.

Na segunda-feira, sinceramente, me revoltei. A gente é cidadão, paga os tributos em dia, vê Iptu, Ipva e outros impostos, pela hora da morte, com valores absurdos. E não vê o retorno adequado disso. Enquanto se joga dinheiro pelo ralo com obras inconclusas, a gente anda e vê calçada com buraco, esgoto e galerias pluviais sem tampas (ou com tampas que oferecem risco) e asfalto completamente irregular. Ontem não consegui completar meu percurso  entre Casa Forte-Torre-Casa Forte. Ao atravessar na esquina da Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti com a Avenida Parnamirim, em frente ao Hospital Maria Lucinda, simplesmente torci o pé.

Já perdi as contas das vezes em que sofri tombos por conta de buracos nas calçadas ou no asfalto, como na foto de 2017.

E torci porque o asfalto parecia perfeito, mas tinha uma pequena depressão, armadilha suficiente para quebrar o pé de alguém. Sentei no meio fio, massageando o tornozelo. Foi muita dor. Mas consegui voltar até Casa Forte, andando e mancando. Peguei o carro que estava na Praça (onde tenho Pilates) e voltei para casa. Gelo, muito gelo. Inchou, está inflamado, tornozelo roxo. Mas pela característica da dor, não deve ter fratura. Pelo menos espero. Como não melhorei, fui hoje ao meu ortopedista predileto, Dr. Bruno Carvalho Nogueira, na Ortho, clínica que fica no Parnamirim e da qual me tornei cliente habitual, o que seria evitável, se o Recife nos oferecesse calçadas e ruas à altura dos nossos direitos.

Não fraturei a fíbula – como ocorreu da última vez – mas precisei imobilizar o pé, até que fique curado. É muito revoltante a situação das ruas do Recife. Como se não bastasse a quantidade cada vez menor de sombras- devido à destruição das árvores – as calçadas e avenidas se transformaram em armadilhas traiçoeiras para quem costuma andar a pé, como eu.  Amigos meus sempre perguntam se não tenho medo de assaltos, já que vivo nas ruas, caminhando sempre. Mas digo que o “assalto pior”, a maior subtração é aquele contra nossa integridade física. Fico imaginando como devem sofrer as pessoas que têm problema de locomoção, que não enxergam ou que têm baixa visão. Aliás, nem é preciso tanto. Ando sem dificuldade  e leio sem óculos até bula de remédio (depois de cirurgia nos olhos, by Natanael Figueiroa). Então, o problema não é enxergar. É a rua mesmo, com serviços não realizados ou mal executados. Porque no local que tropecei, hoje, o asfalto estava aparentemente sem problema. Mas uma pequena depressão no calçamento, uma pisada em falso… e o estrago estava feito.

Aliás, é aí que reside o perigo, porque a pessoa pensa que está tudo em ordem, pisa com força e descobre que há uma irregularidade no chão, suficiente para machucar o seu pé, ou mesmo provocar uma queda. Não foi o meu caso, que só torci o tornozelo. Em um país sério, com respeito aos cidadãos, isso renderia multa feia para o poder público, com indenizações gordas para as vítimas do descuido de gestores, que têm obrigação de zelar pelo bem estar da população. E não atirá-la, desprotegida, à sanha de crateras nas vias públicas.

No retorno, mancando,  vim observando outras armadilhas do caminho. E estão em todos os lugares. O calçamento é irregular  – como na esquina onde ocorreu o acidente – e é rara a calçada onde o pedestre pode andar com segurança: há trechos sem revestimento (no barro mesmo), buracos, pedras soltas, tampas duplas de galerias pluviais afastadas ou com ferragens expostas). Coisa de submundo mesmo. Digam-me: isso é ou não um horror? Se algum estudioso for investigar a quantidade de traumas provocados por esse tipo de descuido por parte do poder público – como já foi feito com as motos – é provável que indique o asfalto e as calçadas do Recife como um problema de saúde pública.  Pelo menos, é o que parece. Eu que o diga!

 

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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