Ameaçada de extinção e considerada a maior águia das Américas, a harpia está cada vez mais rara na Mata Atlântica. Portanto, a observação da espécie em meio ao bioma é, também, um fato raro. E mais raro ainda, é o registro fotográfico da cópula da ave, também conhecida como gavião real. Pois aconteceu. E foi na Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) da Estação Veracel, localizada nos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz de Cabrália, no Sul da Bahia. Coisa linda, não é? As harpias, como muitas aves são, monogâmicas. Um casal vive junto por toda a vida. Mas a espécie precisa de árvores adultas e altas para a reprodução. Em outras palavras, precisam de matas e de seus dosséis.
A imagem da cópula das harpias foi capturada há alguns dias, em ninho monitorado pelo Projeto Harpia na RPPN. É a primeira vez em que uma cópula é registrada em vídeo desde o início do monitoramento na reserva , que possui mais de 6.000 hectares de Mata Atlântica. O flagrante foi obtido por câmeras instaladas no ninho que é monitorado na RPPN Estação Veracel em parceria com o núcleo do Projeto Harpia na Mata Atlântica, coordenado pela Universidade Federal do Espírito Santo. A harpia está classificada como vulnerável à extinção no país, já desapareceu em diversas regiões, é considerada rara na Mata Atlântica. Na Bahia, é considerada como criticamente em perigo de extinção.
“Um flagrante de cópula é sensacional, pois sugere que um novo filhote de uma espécie bastante vulnerável pode estar por vir. Além de raro, o fato é ainda mais importante por ter sido registrado em uma área de Mata Atlântica, onde a população de harpias é menor que na Amazônia,” destaca Virginia Londes de Camargos, coordenadora de Estratégia Ambiental e Gestão Integrada da Veracel Celulose e responsável pela RPPN Estação Veracel. “Esse registro confirma o excelente nível de conservação ambiental da RPPN. A harpia é um predador de topo na cadeia alimentar, e sua presença indica que a floresta está saudável, pois para a sua manutenção tem que haver disponibilidade de presas para sua alimentação, bem como grandes árvores, para construção de seus ninhos”, completa.
Segundo o coordenador do Projeto Hárpia, professor Aureo Banhos (da UFES), as harpias escolhem as árvores mais altas das florestas para fazer seus ninhos, tornando muito difícil a identificação dos mesmos. Quando são encontrados, os ninhos passam a ser monitorados por câmeras trap. Essas imagens permitirão que os pesquisadores acompanhem de perto todo o processo de reprodução, bem como filhote, até que ele adquirira independência. O monitoramento servirá para maior conhecimento dos hábitos da espécie e planejar estratégias de sobrevivência e preservação da espécie. Geralmente, as harpias colocam de um a dois ovos, mas apenas um sobrevive. Os pais tomam conta dele por cerca de dois ou três anos, mesmo que ele já esteja voando e experimentando caçar sozinho. Por isso, a reprodução da harpia é lenta, o que faz com que a ave corra ainda mais risco de desaparecer.
A RPPN Estação Veracel é maior reserva privada do Nordeste e a segunda maior no bioma Mata Atlântica.. A Reserva está entre as 20 áreas do mundo com maior biodiversidade. E foi identificada como uma área-chave para a biodiversidade (Key Biodiversity Area – KBA) pelo seu importante papel na proteção de espécies da fauna globalmente ameaçadas de extinção. Com pesquisadores e equipamentos especializados no estudo e manejo deste tipo de ave, o Projeto vem desenvolvendo pesquisas, reabilitação, reintegração e conservação da população de harpias (Harpia harpyja) de vida livre que habitam as matas dos fragmentos florestais da RPPN Estação Veracel, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) e do Parque Nacional do Pau-Brasil (PARNA do Pau-Brasil), no Extremo Sul da Bahia. Veja o vídeo enviado pela RPPN da Veracel:
Abaixo, você confere informações sobre outras aves de rapina.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto e vídeo: Projeto Hárpia /UFES/ Veracel