Pois não é que “o rapaz da portaria” já está com outro livro prestes a ser editado? E agora por uma editora portuguesa. Estive com Eriberto Henrique no último sábado, na Livraria Cultura, na tarde de autógrafos do seu primeiro volume publicado: Poemas do Fim do Mundo, que nem são tão do fim do mundo assim. Eriberto, para os que não lembram, é o porteiro do Sistema Jornal do Commercio que escreveu 37 livros, conforme contei aqui no #OxeRecife, no dia 21 de junho . E é, também, um escriba compulsivo. Tanto em prosa, quanto em verso.
O seu próximo livro é o Grandes Homens Constroem Seus Destinos, que está saindo pela editora Chiado, de Portugal. Na verdade, são memórias do tempo de caserna. Ela passou quatro anos servindo às Forças Armadas e inclusive participou de missão humanitária do Exército no Haiti, então um país deflagrado pela miséria agravada por um terremoto. De volta, amargou o desemprego, mas, felizmente hoje tem colocação no mercado, o que lhe garante uma certa tranquilidade para escrever nas horas vagas. Li os seus 48 poemas, e acho que o também estudante de Letras tem um longo caminho a percorrer. Disse-me certa vez João Cabral de Melo Neto que poesia é técnica e métrica, principalmente quando o poeta vai envelhecendo, “embotando a sensibilidade poética” e “só resta a perfeição do verso”.
Ariano Suassuna contestava essa ideia, conforme me disse certa vez, quando expus para ele o comentário de Cabral. Dizia que a idade não embota o romantismo e quem tem olhar poético, o tem para sempre. ‘Mesmo caindo de velho”. Eriberto é uma pessoa sensível, e está construindo sua poética, que deverá aperfeiçoar com o tempo e a prática. Coloca-se como um “sonhador”, mesmo diante de “sonhos naufragados”. Em outra ocasião, diz ter fechado vários livros e “muitas outras portas que já não tenho a chave”. Também lembra seus tempos de menino, em que ficava “olhando as estrelas embaixo do pé de jasmim”.
Algumas vezes fala do “peito esquerdo encharcado de lembranças”. Ou descreve uma mulher “sem colo e sem carinho” , que estaria “tirando o esmalte que descasca das unhas das mãos”. A vida e a poesia são assim. O que pode parecer banal para a pessoa comum pode não ser para quem tem alma de poeta. Lembram de Rainer Maria Rilke? “Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse. Acuse a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas”, dizia. E ratificava: “Para o criador, nada é pobre, não há lugares mesquinhos e indiferentes”. Então, a nós não custa nada ver o mundo de outra forma. Como os poetas.
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação