Como diz a amiga Luce Pereira foi uma delícia o último sábado, quando uma turma gente boa inaugurou o quintal do Sebo Casa Azul, para um evento cultural. No caso, a leitura dramatizada de Bernarda Soledade, o Tigre do Sertão, livro que foi adaptado para o teatro por Ana Nogueira e Fabiana Pirro. O encontro foi enriquecido pela presença do autor, Raimundo Carrero, que falou sobre aquele que foi o seu primeiro romance (escrito em 1973, quando ele tinha apenas 23 anos).
Terminou sendo uma noite mágica e diferente. Até porque não é todo dia que se desfruta de um quintal maravilhoso (nesses tempos de verticalização do Recife), com gente sentada, assistindo a um filme, um teatro, uma declamação. Ou mesmo conversando. O Sebo Casa Azul, como vocês devem saber, é capitaneado pelo nosso amigo Samarone Lima e está destinado a se transformar em um ponto de agitação cultural, em Olinda. Tirando a Licoteria e os Quatro Cantos, a cidade parecia um cemitério, na noite de anteontem. Ou seja, precisa de movimentação. Aliás, de boas movimentações. E o Sebo Casa Azul chegou para quebrar essa inércia.
A entrada foi gratuita, mas no fim da apresentação se passou o chapéu, como acontece em eventos populares ou nas feiras do interior. Também teve venda de comidinhas gostosas, como tortas salgadas e sanduíches naturebas. Com sua simpatia e bom humor, Carrero depois participou de um debate, conduzido por Samarone. Perguntas não faltaram. Ele, paciente, falou da importância da música na sua obra, fez relatos da infância e da adolescência, confissões de amor à companheira. E ainda desafiou os presentes a escrever uma boa prosa iniciando uma frase com gerúndio, tempo verbal que ele não acha graça. E que, segundo ele, tira a força de qualquer coisa que se queira dizer no texto escrito.
E se considerou um homem de sorte, porque teve três grandes mestres, que o orientavam – no início da vida de escritor – com a maior boa vontade do mundo. Vejam o trio que “ensinou” Carrero a exercer sua literatura: Ariano Suassuna, Gilberto Freyre, Hermilo Borba Filho, assim, nessa ordem. Até porque Ariano foi o mestre com o qual Carrero mais se identificava. E também o que viveu mais, para acompanhá-lo até a maturidade. Ariano e Carrero conversavam muito. Tanto que houve dias em que a troca de ideias se estendia das nove da manhã às nove da noite. Ao analisar um trabalho de Carrero anterior a Bernarda, Ariano tentou animar o aspirante escritor, apesar de não ter aprovado o que leu. “Não gostei do livro, mas não significa que ele não seja bom “. E aconselhou Carrero a ir em frente. Mesmo com a restrição, ele achava que o jovem tinha um futuro promissor como romancista. Terminou acertando. Isso porque, 46 livros depois, o pernambucano coleciona premiações. E admiração de um público leitor cada vez maior. Inclusive no exterior. Viva Bernarda Soledade! Viva nosso bravo Raimundo Carrero!
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife