Quatro mil árvores eliminadas no Recife?

O Recife  possui cerca de 250 mil árvores, embora haja áreas na cidade – como trechos da Avenida Norte e da Avenida Sul – onde não se vê uma só planta nas calçadas. Para agravar a situação, é grande a quantidade de árvores eliminadas. De acordo com a Emlurb, foram erradicadas 4 mil, desde 2013. A informação foi transmitida essa semana ao Blog #OxeRecife. Os números, no entanto, não batem com a realidade. Porque no dia 5 março de 2015, o Conselho Municipal do Meio Ambiente (Conam) já cobrava explicações à Prefeitura pelas “podas drásticas” (41.400) e supressão de árvores (4.922).

Agora pergunto eu: como, em 2016,  tantos meses e cortes depois, a quantidade é menor? Realmente, essa conta está difícil de entender. Os números então encolheram? Como aceitar essa informação, se o Conam já acusava aquelas quantias, também anteriormente confirmadas pela própria Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) a essa repórter?  Desde então, a situação só se agravou. E a população começa a reclamar. No ano passado, árvores marcadas para morrer – para ceder espaço para uma ciclovia, no Arruda – chegaram a ser amarradas com fitas vermelhas, em protesto dos recifenses contra a ameaça. No caso, as árvores são seculares e estão sadias. Até mesmo associações de defesa dos direitos de ciclistas – que tanto exigem faixas exclusivas – gritaram em pela manutenção das plantas, que ficam às margens do Canal do Arruda. Elas são o “refresco” da área, de acordo com os moradores.

Em apenas uma calçada, na Rua do Futuro, cortes radicais deixaram as árvores como tocos.
Na Rua do Futuro, cortes radicais deixaram as árvores como tocos: umas morrem e outras tentam sobreviver na marra.

A destruição começa a despertar a apreensão da população. A produtora cultural Karina Hoover, residente no Poço da Panela, reclama que as últimas podas realizadas no bairro “só deixaram os tocos”. Ela inclusive postou a queixa no seu Facebook. No mesmo bairro, já é possível se observar o clamor contra o “genocídio”, retratado nos muros do bairro: “Parem de derrubar árvores”. O problema, no entanto, não é só ali. Ocorre nos quatro cantos da cidade. Quer um exemplo? Passe na Jaqueira,  onde em apenas uma calçada, na Rua do Futuro, contei seis árvores que viraram toquinhos. Uma  inclusive resiste bravamente à tentativa de “homicídio”. Ela se esforça por sobreviver, com as folhinhas brotando no tronco mutilado. Segundo a Emlurb, a erradicação se limita a  casos extremos.

“A erradicação só acontece quando a árvore está completamente comprometida ou sofreu algum dano, não sendo possível nenhum tipo de tratamento fitossanitário”, informa a empresa. Mas já testemunhei casos de árvores que teriam sobrevivido, se houvesse cuidados especiais no momento certo.  Vi isso na Rua da Alliança, em Apipucos, onde a população se encarregou da poda e do tratamento fitossanitário de uma  planta, que estava atacada de cupins. Condenada  pela omissão oficial, foi salva por quem precisa de sua sombra. Em outros lugares, não foi permitida a sobrevivência das árvores. Um exemplo: a que ficava  na esquina da  Rua Desembargador Góis Cavalcanti com a Misael Montenegro. Podada radicalmente, só lhe restou o tronco. Estava brotando de novo. Pois sabe o que aconteceu? Acabaram com ela. E agora só se vê o pó de serra no chão. Uma tristeza imensa. Diz a Emlurb que no período em que das “4 mil erradicações”, 50 mil mudas foram plantadas no Recife. Mas reconhece que 30 por cento delas não vingaram. E como as mudas demoram a crescer,  não é difícil se perceber o prejuízo para  para a temperatura do Recife, com ilhas de calor cada vez maiores.

(Fotos: Letícia Lins / #OxeRecife)

 

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