Desde criança, sempre gostei da natureza. E de ler sobre plantas e animais. E a primeira vez que ouvi falar em quati, era ainda adolescente. Lembro-me bem de sua foto, em um livro chamado Mamíferos, publicado pelo MEC. Nele, se dizia que o animal adora perfume (creio que tanto quando o timbu aprecia a cachaça). O livro citava que, para atrair o animal, havia quem colocasse um chumaço de algodão em uma vara. E que ele viria, bem ligeiro, cheirar o perfume. Não sei, no entanto, se a informação é verdadeira, pois não ouvi mais falar nisso.
Posteriormente, um tio meu, Plácido, foi mordido por um quati. E na terceira vez, travei contato direto com o animal. Eu estava fazendo uma reportagem em um casebre de Gameleira, na Zona da Mata, quando um bicho pulou no meu colo, no sofá esfarrapado da sala de lavradores. Tomei um susto, pensando que era uma ratazana. Mas quando prestei atenção, era o animal de estimação da família. Fiquei imóvel, temendo uma mordida, como aconteceu com o meu tio. Mas ele foi logo retirado do meu colo. Mesmo assim, tenho a maior simpatia por esse bichinho. Vejam só, com mimoso, esse filhote aí da foto.
O bebê da espécie (Nasua nasua), com aproximadamente um mês, foi levado nesta semana à Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). A entrega foi feita por um servidor público que o encontrou, ainda com o cordão umbilical, quando estava praticando corrida nas proximidades da Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife. Próximo ao mamífero, mais dois da mesma espécie foram vistos na ocasião, um adulto e outro jovem. Mas ambos estavam mortos, vítimas de atropelamento. Um deles devia ser a mãe do quanti. Uma verdadeira tristeza. Morador da Várzea, Zona Oeste do Recife, o servidor público Gilton da Silva cuidou do quati por quase três semanas, em sua casa.
Ele disse ter ficado com muita pena do bebê, ao vê-lo solitário e desprotegido. E passou a cuidar do bichinho, mas que sabia que não deveria ficar com ele. Resolveu, então, pesquisar pela internet qual seria o destino correto do bichinho, e aí colheu informações sobre as entregas voluntárias de animais silvestres feitas à agência ambiental. “Foi assim que decidi entregá-lo. Acho que é o correto, o melhor para ele” afirmou. O filhote de quati já está no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Pernambuco (Cetas Tangara) da Cprh, em área rural no Bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife, até que fique adulto e tenha condições de voltar à natureza. Os quatis vivem em bandos, costumam se acolher em árvores e têm hábitos diurnos. Ocorrem na Colômbia, Uruguai, Brasil e Norte da Argentina.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação/ Cprh