“Quanto mais tira, mais lixo aparece”

Compartilhe nas redes sociais…

Estive, hoje pela manhã, no Capibar, onde funciona o movimento Recapibaribe, que mobilizou nessa sexta (31/08) cerca de cem pescadores, em gincana para limpeza daquele nosso tão lindo, mas tão mal tratado patrimônio natural, que é o mais pernambucano dos rios e uma das marcas registradas da paisagem do Recife. É que no último dia desse mês – como anualmente ocorre – foi deflagrado o evento Há Gosto pelo Capibaribe, que consiste em ação de faxina no rio. O trecho da operação fica entre os bairros do Monteiro e Ilha do Retiro.

Antes mesmo do início do certame, já tinha pescador colhendo sofás, capacetes, carcaças de geladeiras, brinquedos velhos, computadores no rio. Enfim, tudo que aparece nas suas águas. Ninguém melhor do que eles, portanto, para traçarem um perfil da situação do nosso “Cão sem plumas”. Vejam só o que diz Laércio Rodrigues, há 20 anos vivendo da pesca. “Parece que hoje a situação do rio é bem pior. Antes a gente achava boca-mole, tainha, curimã, pescada branca”, recorda. “Mas agora a gente joga a rede e só vem lixo, até perdi as contas das carcaças de geladeiras que já pesquei”, conta.

Laércio já “pescou” geladeiras, sofás e até moto velha no Capibaribe.”Quando senti o peso pensei que era um xaréu”.

Laércio afirma que dia desses, julgou ter pescado um peixão grande, “um xaréu”, já que a rede pesava muito. “Mas o que veio foi um sofá velho, e eu perdi foi a rede”, lamenta. Informa, ainda, que já “pescou” fogão, privada, capacete de motoqueiro e até uma moto velha. Quando isso acontece, a rede rasga. E  os pescadores perdem o instrumento de trabalho. “O prejuízo chega a R$ 300 por rede, se o pescador mandar fabricar. No meu caso, foi de R$ 150, porque eu mesmo confecciono a minha”. Outro desanimado com a situação do Capibaribe é João Batista de Lima, 62, pescador há 40. “Quanto mais a gente tira, mais lixo aparece”, diz.

O Capibaribe é vítima do despejo de esgotos domésticos, resíduos industriais e da completa falta de educação doméstica da população, que usa o rio como lixão. O Capibar é a prova mais viva disso. Ali, as paredes, o píer e até corredor, são decorados com o que se colhe no rio, que passa atrás do bar., de boneca velha a telefone, de cadeira a mesa, de panela a privada com descarga e tudo. “Entre 1999 e 2000, colhemos só atrás do bar, nada menos de 600 toneladas de lixo no Capibaribe, com a ajuda da comunidade”, diz Socorro Catanhede, dona do Capibar, também fundadora e coordenadora do Recapibaribe. Esse ano,o Há Gosto pelo Capibaribe ganhou reforço do Rotaract Clube Recife Encanta Moça, que organizou uma vaquinha virtual para arrecadar recursos para ampliar a ação.  Em 2017, pescadores tiraram sete toneladas de lixo do rio, durante o evento.  Foram 35 profissionais que participaram. Em 2018, foram inscritos cem, e a perspectiva é que, até o final do dia, 20 toneladas de detritos tenham sido “pescadas”.  Os três primeiros colocados na gincana tiveram direito a prêmios. O Capibaribe corta 42 municípios pernambucanos e é poluído em todos eles.

Confira o início da ação, no vídeo:

Leia também:
Vaquinha para limpar o Capibaribe
Vamos limpar o Capibaribe?
Barco recolhe 55 toneladas de lixo no Capibaribe em 2016 
Capibaribe sem apoio em 25 municípios
Um Brasil de rios sujos

Texto e fotos: Letícia Lins/ #OxeRecife

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.