Pela primeira vez, em quase duas décadas, deixei de comparecer à Procissão dos Santos Juninos, uma das mais comoventes manifestações que acontecem no Recife, em homenagem não só a Santo Antônio, São João e São Pedro, como também a São Paulo, São José e Santa Isabel. E cuja concentração acontece anualmente no Santuário do Morro da Conceição, de onde o cortejo desce rumo ao Sítio Trindade, em Casa Amarela, onde as bandeiras dos santos e os estandartes das quadrilhas juninas são colocados em volta do andor, entre cânticos religiosos, forró pé de serra, os tiros de bacamarte e o pipocar dos fogos de artifício. Na verdade, uma linda cerimônia.
Em 2020, ela ocorreu na noite de 23 de junho. Mas devido à pandemia do novo coronavírus, não houve cortejo pelas ruas daquele bairro da Zona Norte, nem grupos de quadrilhas juninas reverenciando os santos. Houve sim, a cerimônia religiosa de sempre, no interior da igreja de Nossa Senhora da Conceição, no alto do Morro. Em seguida, o andor desceu a ladeira, seguido apenas pela forrovioca, fazendo percurso somente até a Rua da Harmonia, de onde a forrovioca seguiu seu caminho, para cumprir o roteiro programado para a véspera de São João. Parabéns pelo esforço a Leda Alves, Carlos Carvalho, Marcelo Varela, Diego Rocha e Sílvio Dantas. Os três primeiros pertencem à Secretaria de Cultura. E os dois últimos, à Fundação de Cultura da Cidade do Recife, órgãos que atuaram para que o evento, tão querido da população da capital, não passasse em branco. Toda a cerimônia – em meio ao isolamento determinado pelas autoridades sanitárias – foi transmitida ao vivo, pelas redes sociais da Prefeitura. Com poucas pessoas no interior da igreja de Nossa Senhora da Conceição: servidores públicos, músicos e religiosos. Só eles.
“Talvez os Santos não esperassem que nesse atordoado ano de 2020, que nós, que fazemos a Secretaria de Cultura e a Fundação da Cidade do Recife tivéssemos a coragem e a determinação de realizarmos pela décima terceira vez, a Sagração das Bandeiras, em suas homenagens. Fomos nós, caminhando contra o vento, superando obstáculos, mas com o sentimento de que a esperança estava viva,vivinha dentro de nossos corações, que nos fez reverenciar todos os santos do nosso ciclo junino”, diz Marcelo Varela (foto menor)
Marcelo Varela foi homenageado no evento. A Procissão dos Santos Juninos, como aliás, outros eventos populares do Recife são crias dele, ou “recrias”, como forma de manter tradições que, com o passar dos anos, ficariam só na memória dos nossos avós . E a Procissão não seria realizada não só em 2020 mas em muitos outros anos, se não fosse o seu empenho e sua pessoal dedicação. “Realizamos, sim, realizamos com muita determinação, na certeza de que humanos e divindades podem conviver nos mesmos espaços. Foi mais uma vitória nossa. Foi mais uma vitória dos nossos irmãos espalhados por todas as comunidades do Recife e Região Metropolitana. Tenho a mais absoluta certeza de que São José, Santo Antônio, São Pedro, São Paulo e Santa Isabel estão sorrindo junto ao Senhor e felizes por saberem que, aqui na Terra, mesmo com todas as adversidades, que estamos vivendo a fé, a religiosidade, ainda são nossos guias, luzes dos nossos caminhos”, completou Varela. Falou e disse! E fez, o que é muito importante.
No Canal do YouTube e no Facebook do #OxeRecife, você confere outras cenas da Procissão dos Santos Juninos da pandemia. As imagensabaixo são no interior do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, e me foram enviadas por amigos que atuaram na festa:
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Texto, foto e vídeos : Secretaria de Cultura do Recife/Divulgação