O nome é Museu de Arte Sacra Escritor Maximiano Campos. Mas bem que poderia ser chamado de Museu de Arte Sacra dos Santos Resgatados, já que todo o valioso acervo do primeiro Museu de Arte Sacra da América Latina esteve entregue às baratas por um longo tempo. Hoje, as peças estão acomodadas naquele Museu, que foi inaugurado em 2013, e que funciona na Unidade Ler do Sesc, em Goiana, município em que o precioso e histórico tesouro de 870 peças esteve à beira de se perder, por descaso de autoridades civis e religiosas.
As peças remontam aos séculos 16, 17 e 18, e agora passam por processo de restauração. As que já foram “tratadas” ficam em exposição. Ou melhor, parte delas, já que – como em todo museu – as de lá também sofrem rodísio. O que falta no Museu é identificação das peças. Embora todas estejam catalogadas pelo Iphan, não vi identificação com pequeno histórico em nenhuma delas. Em todo caso, muitas das dúvidas do visitante são esclarecidas durante a visita guiada. Instrutor de artes visuais e mediador, Anderson Kleyton Batista de Menezes é quem conduz os visitantes a um mergulho naquele fantástico universo. “São peças importantes para a construção da memória e da nossa identidade, e muitos jovens nem sabiam da existência desse acervo”, revela. Ele destaca três das peças que mais despertam a curiosidade do público.
Com dois metros, e pesando mais de 94 quilos, a imagem de Nossa Senhora do Amparo chama a atenção de quem chega no Museu. Datada do século 18, foi confeccionada em “talha colonial brasileira de estilo barroco-rococó da Zona da Mata”. Diz Anderson: “Ela tem valor agregado, por conta do perfil histórico e social, pois foi doada pela Princesa Isabel ao município de Goiana, que, antecipando-se à Lei Áurea, libertara antes os seus escravos”. A santa fica, por isso, em exposição permanente. Outra imagem que chama a atenção, é a polêmica Nossa Senhora do Leite, em que ela aparece com o seio nu, amamentando Jesus Menino. A imagem pesa doze quilos, e tem 78 centímetros de altura. “É a única do gênero no Nordeste, e temos apenas o registro visual, pois não sabemos de onde ela veio”, diz.
Ele gosta, também, de referenciar os sinos da Igreja Nosso Senhor Bom Jesus dos Homens Pardos. “A igreja não existe mais, caiu e em seu lugar foi erguido um hospital”, conta. Se você quer visitar o Museu de Arte Sacra em Goiana – tão pouco falado aqui no Recife – terá oportunidade de conhecer as 172 peças que ficam em exposição. As demais estão na reserva técnica ou em restauração. E aí, há outra coisa interessante. Foi criado um curso de assistente de conservação e restauração de bens culturais. Gerente do Sesc Ler de Goiana, Maria do Socorro Chaves explica que como o Sesc não faz educação profissional, foi feito um convênio com o Senac, para certificação do curso, o primeiro do gênero do Senac no País. Três turmas já foram concluídas, com formação de 45 jovens no setor. São 420 horas de treinamento, para maiores de 18 anos, com ensino médio completo. Ela também tenta parcerias com empresas privadas, que possam ajudar na recuperação do acervo.
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Serviço:
O quê: Museu de Arte Sacra Maximiano Campos
Onde: Rua do Arame, Goiana, Zona da Mata Norte
Horário de funcionamento: das 8h às 12h, e de 13h às 17h, de segunda a sexta-feira.
Quanto: acesso gratuito
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife