Dizia o saudoso Milton Santos que, um dia, a cultura da periferia iria predominar, e o funk e o brega funk estão aí para provar a profecia do grande geógrafo e pensador. No Recife, o brega já virou até patrimônio imaterial da cidade. E o Prefeito João Campos, candidato à reeleição pelo PSB e favorito em todas as pesquisas de intenção de voto, sabe como ninguém tirar proveito disso. Seja fazendo o passinho em algum morro da cidade, usando óculos no estilo dos artistas do gênero ou mesmo descolorindo os cabelos, “nevando”, como fez no carnaval.
Na quinta, ele se encontrou com integrantes do movimento Brega do Recife. Durante a reunião, realizada no bairro popular de Afogados, o líder da Frente Popular “reafirmou seu compromisso em valorizar o segmento, além de reforçar que o investimento na periferia da cidade foi e será uma prioridade em sua gestão”, segundo sua assessoria. Ainda durante o encontro, destacou o sentimento de gratidão pela relação com o movimento.
“Eu tive a alegria de contar com uma turma que acreditou em mim, lá atrás, há quatro anos. E me comprometi a não esquecer e reconhecer quem esteve ao nosso lado naquele momento, quando também assumimos alguns compromissos e pudemos realizá-los ao longo desse tempo. Contem comigo mais uma vez”, disse. Candidato a vice-prefeito, Victor Marques (PCdoB), destacou:
“Antigamente, a gente ouvia o brega em todo canto da cidade, mas não ouvia o brega nos eventos da Prefeitura. E a gente tinha a obrigação de fazer o reconhecimento, porque o que vocês fazem pelo Recife é representar parte da cultura da cidade, é representar a periferia do Recife e a capacidade de transformar a vida das pessoas. Então para mim é uma honra estar aqui hoje e vocês terão mais um soldado que vai lutar pela causa de vocês”
No seu primeiro ano de gestão, em 2021, o prefeito João Campos sancionou a lei que institui o Movimento Brega como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife, para valorizar essa expressão artística, incentivando artistas, dançarinos, empresários e toda a cadeia produtiva que atua direta ou indiretamente no ciclo cultural e econômico do movimento Brega. Nas edições do Carnaval de 2023 e 2024, o segmento ganhou maior visibilidade, com espaço no principal palco da maior festa da cidade. Participaram do evento MC Elvis, Anderson Neiff, Valquíria Santana, MC Tróia, Michele Melo, Shevchenko, Capitão Pitomba, VT Kebradeira, integrantes da Banda Sentimentos, entre outros. Na festa da virada 2025, o segmento também está presente.
Tá bom, tá bom. A cultura é democrática e há espaço para todos e para todos os gostos: clássico, popular, frevo, ciranda, maracatu, manguebeat, brega, brega funk… Tanto é assim que há muitos representantes do brega na festa gigante da virada, no Réveillon 2024-2025. Mas valorizar o brega não dá direito aos agentes públicos de deixar de lado as manifestações populares, tradicionais. Por que, então, nem que fosse na abertura de cada noite, a festa de Réveillon não tem na programação um pastoril, um reisado, um fandango, um cavalo marinho? Seria uma boa dar visibilidade à cultura popular tradicional. Ou ela não é tão importante para os gestores da cidade?
Com a palavra, as Secretarias de Cultura e a de Turismo e Lazer do Recife. Ah, um lembrete. As festa, que foi privatizada, já deu início à pré-venda de ingressos, com preços a partir de R$ 330. O cliente terá direito a serviços exclusivos, como lounge, open bar, banheiros, área em frente ao palco.Muita gente quer saber qual a empresa que vai explorar a parte lucrativa do show…
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Edson Holanda / PSB e Acervo #OxeRecife
Sou chato, será que eles sabem que o Pastoril originou o Frevo de Bloco e os Blocos Carnavalescos como Batutas de São José, Madeiras do Rosarinho, Flor da Lira e tantos outro de Pau e Corda ? Letícia me perdoe a contundência. Deus Ilumine seus passos e espaços!
Devem saber…
O prefeito e sua trupe não são ligados nas nossas tradições culturais. A ligação existe apenas em relação ao seguimento musical que rende mais votos, e certamente não é o seguimento das nossas tradições culturais. Em muitos momentos me envergonho de ser pernambucana, um deles foi quando o prefeito dançarino (nada contra os dançarinos) sancionou a lei que institui o movimento brega como Patrimônio Cultural e Imaterial do Recife. Mas ele não tem como oferecer coisa melhor, oferece apenas o que seu nível cultural lhe permite oferecer. É um chefe do executivo com escolaridade, mas baixa cultura. E escolaridade, sabemos, não é fator determinante para conferir cultura a ninguém.