Há alguns dias, a Prefeitura anunciou a criação de comitê gestor para gerir os jardins históricos assinados por Roberto Burle Marx (1909-1994), um dos mais importantes paisagistas do mundo. E o primeiro local a ganhar a iniciativa é a Praça Faria Neves, que fica no bucólico bairro de Dois Irmãos, Zona Norte do Recife. Por ficar em frente ao zoológico, é ums das mais movimentadas do Recife. Em tempos comuns, suas calçadas viram pista para pôneis e o gramado chega a ser usado para piquenique, atividades que deixam para trás muita sujeira: fezes de animais, quentinhas, palitos de churrasquinho, embalagens plásticas. Coisas da falta de educação doméstica mesmo.
Com a pandemia, a Praça respirou mais um pouco. Com a ajuda do inverno, parte do gramado se recompôs. Pela manhã, é possível observar-se, ali, grupos de empresas privadas reunindo funcionários para treinamento de trabalhadores. Atitude que considero saudável, pois deve ser muito bom discutir assuntos profissionais sob a sombra das árvores. A praça é adotada pelo Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe). Se não fosse, poderia estar em situação ainda pior. O Conselho Gestor precisa ficar de olho em árvores que foram eliminadas e que não tiveram reposição ali. Tanto na própria praça, quanto no entorno. E também a quiosques que nem de longe lembram pontos de vida dignos deste nome.
Já que é um jardim histórico, merece respeito não só a praça, como todo o entorno, onde há construções antigas e preservadas, a exuberante vegetação da Mata Atlântica por perto. Mas também tem “quiosques” improvisados para venda de alimentos e brinquedos que mais parecem chiqueiros. Eles já não eram bonitos antes. Com o abandono provocado pela pandemia, até parecem um monte de entulhos. E, como se sabe, um entulho chama outro. Se ninguém correr, daqui a pouco a Faria Neves vai parecer um lixão, como ocorre com outras praças tão ou menos famosas quanto aquela. Ao todo, a praça possui 8.600 metros quadrados e o projeto de Burle Marx é datado de 1958. Ela conta até com uma estátua do paisagista.
Possui bancos sinuosos – uma das marcas do artista – e árvores como jambeiros, pau-rei, abricó-de-macaco, palmeiras, coqueiros e até um baobá. E também uma palmeira imperial famosa, com estirpe único, mas bifurcada (coisa rara), e por esse motivo é protegida por lei municipal. Os canteiros são coloridos pelas flores de cana-da-índia. A última grande reforma ali aconteceu em 2006, com restauração promovida pela Prefeitura com coordenação do Laboratório de Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco e apoio dos moradores. Aliás, se não fosse esse grupo da Ufpe, a situação dos jardins históricos de Burle Marx seria ainda pior. E a Prefeitura e o comitê gestor deveriam aproveitar o momento – sem frequência devido à pandemia – para dar um freio de arrumação na Faria Neves. Porque linda, ela é. Só precisa de trato.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife