Poluição sonora incomoda humanos e bichos em Aldeia: Audiência pública

A completa omissão das autoridades tem deixado o morador do Recife à mercê de poluição sonora nos quatro cantos da cidade. Ela incomoda tanto em bairros mais sofisticados – como Casa Forte, Apipucos, Boa Vista e Boa Viagem – quanto em áreas populares, como os altos de Sítio dos Pintos, onde moradores se queixam de ter que passar o final de semana fora, porque não conseguem dormir devido à balbúrdia de alguns vizinhos. Agora, o problema chegou, também, onde menos se esperava: em Aldeia, um dos mais verdes recantos da APA Aldeia-Beberibe.

Sossego em Aldeia está em risco. Poluição sonora se tornou insuportável até para animais como a preguiça (acima).

Na Boa Vista (foto abaixo), moradores se queixam do barulho em bares como o Conchita e o Metrópolis, cujos frequentadores ocupam até o asfalto, na Avenida Manoel Borba com barulho insuportável, durante os finais de semana. “Moro em frente a essa miséria. Tenho 65 anos. Às quintas, sextas, sábados e domingos, é impossível dormir. Os frequentadores e seus carros fecham a rua, e fica impossível entrar o sair de carro do prédio após as 22 horas. Além do mais, quando chamam a CTTU,, esta chega às três horas da manhã, ligando a sirene”, reclama Gildázio Moura. “Aqui na Várzea é a mesma coisa”, diz Laura Melo. “A gente chama o 190, os policiais chegam e dizem que o problema não é com eles”.

Para outro leitor, Iraque Santana, o desconforto por poluição sonora é geral. “A gente liga para o 190, eles anotam o número do protocolo e nada acontece. Tremendo descaso”. Em Sítio dos Pintos, Vanda Silva tem ido passar os finais de semana na casa da nora, em uma praia. “Se ficar, não durmo”, afirma. Em Apipucos, casa de festa instalada no número 147 coloca som tão alto, com música de discoteca que lembra um bate estaca. No meu caso, o barulho em excesso me dá taquicardia. Um vizinho revelou que sente o mesmo, quando o piso da sua residência começa a tremer ao ritmo do excesso de decibéis. Moradores de comunidade Areal, à margem do Capibaribe informam que suas casas trepidam tanto com  o som alto “que até as panelas chegam a cair no chão”.  Ou seja, cidadania que é bom… nada!

 

Agora o desconforto chegou ao paraíso verde da Região Metropolitana, a Apa Aldeia Beberibe. “Em Aldeia, que teoricamente seria um lugar tranquilo para se viver, o som alto é o inferno nosso de cada dia. Fim de semana, então nem se fala com a quantidade de casas de eventos e casas particulares alugadas a terceiros para festa”, afirma Mila Portela, do Fórum Socioambiental de Aldeia. “O mais grave é que o cidadão não sabe a quem recorrer, pois a polícia não tem efetivo para atender e não há outra instância que possa fiscalizar e autuar esses criminosos”. Pior: Há condomínios, onde alguns proprietários vêm alugando suas casas para festas sem cerimônia. São comemorações bem ruidosas.

E com muita gente.  Os vizinhos que se danem. “No nosso condomínio já teve festa tão grande que foram fretados ônibus para trazer os convidados”.  O barulho era insuportável. As reclamações não são só de Mila. A comunidade não está aguentando mais. “As reclamações e denúncias que chegam à organização comunitária cada vez mais crescem. E o Fórum não tem como tratá-las, muito menos como resolvê-las. O barulho afeta os seres humanos e também a vida silvestre”. Denúncias já são muitas.  Até que fim, no entanto, alguém tomou uma providência. A Promotora de Justiça Rejane Strieder Centelhas, da Segunda Promotoria de Justiça Civel de São Lourenço da Mata, fez uma convocação para audiência pública, a fim de discutir o assunto. Tentar uma solução.  Como o problema é geral, tem muita gente do Recife querendo participar. A audiência será virtual, às 14h do dia 10 de fevereiro. É só entrar no link meet.google.com/wmieynnbnp.

Vamos nos mobilizar contra esse absurdo? Pelo menos, a atuante promotora pode nos indicar um caminho contra o abuso, já que as autoridades do estado e dos municípios – incluindo o Recife – nada fazem para conter os excessos, cada vez maiores.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Acervo #OxeRecife

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One comment

  1. É preciso aplicar a Lei do Silêncio! Existe, mas não é cumprida e os órgãos públicos (ir)responsáveis nada fazem. Este é um problema de má educação, falta de respeito e solidariedade, além de total ausência de civilidade. Parabéns ao OxeRecife pela informação sobre a audiência pública convocada pela Promotora de Justiça Civil e também pelo excelente serviço de utilidade pública que vem prestando não somente à população do Recife!

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