Dia desses, estive na Academia Pernambucana de Letras, para assistir uma edição da Roda de Conversa, sob a coordenação do meu querido amigo Cícero Belmar, que foi escalado pela Presidente da APL, Margarida Cantarelli, para desenvolver um projeto que aproximasse os jovens daquela Casa. Ao final da sessão, duas cestas de livros foram ofertadas aos visitantes. Cada qual escolhia o volume que quisesse. Relutei um pouco, porque minha biblioteca está abarrotada. Mas não resisti, ao ver o volume Romances Urbanos, reunindo dois livros de Mário Sette (1886-1950).
Foi amor à primeira vista. Uma atitude meio afetiva, também, porque o meu Maxambombas e Maracatus, do mesmo autor, desapareceu misteriosamente de minha estante. E eu tinha mania de ler e reler o livro. Algumas vezes, por prazer e para reviver um Recife que não cheguei a conhecer, mas do qual meus avós maternos falavam muito. De outras, por necessidade, como consultas por motivo de trabalho. Na APL, peguei o Romances Urbanos, que traz dois romances de Mário Sette, ambos ambientados no Recife: Seu Candinho da Farmácia e Os Azevedos do Poço. O primeiro se passa no bairro de São José. O segundo tem seu principal núcleo familiar no Poço da Panela, na Zona Norte do Recife.
Os dois livros são um verdadeiro deleite. Um mergulho no Recife do século passado, um Recife romântico, com seus “prédios” de três ou quatro andares, as pontes com os arcos em suas cabeceiras, os banhos de rio, as festas de rua. No Os Azevedos do Poço, grande parte da história se passa no histórico bairro do Poço da Panela. Fala das procissões saindo da Igreja de Nossa Senhora da Saúde, das comidas vendidas nos tabuleiros nas festas de rua (como ocorre, ainda hoje), nos eventos em áreas públicas, nas reuniões de família, nos barcos singrando o Capibaribe, nas travessias de uma margem a outra (como se vê, nas proximidades da Igreja). Fala das conversas entre vizinhos, nas calçadas.
Cita, também, os casarões das famílias abastadas, assim como chalés “constantemente abertos” e “sem salas de visitas”. É incrível como, em pleno século 21, ainda se encontra esse tipo de comportamento naquele bairro, onde muita gente ainda coloca cadeiras nas calçadas. Uma cultura que vem dos séculos 19 e 20. Há ateliês, cafeterias, restaurantes funcionando em casarões. Na época junina, acontecem arraiais perto da Venda de Seu Vital, ou mesmo em algumas residências. Assim como no passado. Por que não lembrar então a Casa de Clarissa Garcia, transformada em Poço das Artes, Galeria e Bistrô? Amanhã, 4 de maio, as portas estão abertas a partir das 20h, para mais uma noite bem agradável. É que Sérgio Ferraz (violão) e Ricardo Brafman dedilham suas cordas, para interpretar clássicos do Jazz. O preço sugerido é R$ 10. E no sábado, no mesmo horário, tem Cantorias do Interior por Mar, com Publius e Toninho Arcoverde. Chegue mais cedo, para caminhar pelo Poço, pela sua história, pelas ruas estreitas e bucólicas, pelo silêncio do Capibaribe.
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Serviço:
O quê: Clássicos do Jazz com Sérgio Ferraz e Ricardo Brafman
Quando: sexta-feira, dia 4, a partir das 20h
Quanto: R$ 10 (preço sugerido)
O quê: Cantorias do Interior Pro Mar, com Publius e Toninho Arcoverde
Quando: sábado, dia 5, a partir das 20h
Quanto: contribuição espontânea
Onde: Poço das Artes, Rua Álvaro Macedo, 54, Poço da Panela
Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife