Quem vê essa dupla famosa de bonecos gigantes seguindo com a maior tranquilidade pelas ruas da Zona Norte, no último dia 11, não imagina o que aconteceu com aquele que era considerado o melhor e mais tradicional carnaval de bairro do Recife: o do Poço da Panela, onde até 2020 as agremiações costumam desfilar com orquestra no chão à maneira do genuíno carnaval pernambucano. Era uma festa feita pela própria comunidade que terminou atraindo número cada vez maior de foliões. Em 2023, mesmo sem que o seu maior bloco – Os Barba – fosse às ruas, o Poço foi tomado por uma multidão de foliões no sábado passado. O problema: ninguém conseguia ouvir o som das orquestras de frevo, as batucadas dos afoxés, os tambores dos maracatus. É que o sítio histórico foi simplesmente invadido por “paredões”, com volume de som absurdo, que descaracterizam por completo aquela que era uma festa tão bonita e tranquila. Tem mais: a poluição sonora tomou conta do bairro, com realização de festas privadas, que não só abafaram as manifestações de rua como perturbaram o sossego dos moradores, que tiveram que recorrer até à Polícia Militar, diante dos e excesso de decibéis.
E tanto foi assim, que houve bloco que costumava circular entre Casa Forte e o Poço da Panela, que decidiu passar longe do bairro histórico, como foi o Pisando na Jaca, que fez um desfile maravilhoso, porém no caminho inverso ao tradicional: saiu em direção ao bairro de Casa Amarela. Era orquestra de frevo e passo no meio da rua, como sempre foi no carnaval recifense. Já o bloco da Turma da Jaqueira Segurando o Talo, levou sua versão pé no chão ao Poço, com o cortejo puxado pelos bonecos gigantes de Gilberto Freyre e Nelson Ferreira (foto acima), com presença de blocos líricos, caboclinhos, maracatu rural. Mas o fez no final da manhã, quando a poluição sonora era menor. Depois, retornou à Avenida Dezessete de Agosto, por onde seguiu com os seus oito trios elétricos, passando pelos bairros de Casa Forte, Monteiro e Apipucos. É verdade que o som dos trios é ensurdecedor, mas eles circularam em uma avenida mais larga e não ficam parados. Logo passam. No caso dos paredões do Poço da Panela, os veículos chegam, estacionam, e competem entre si para ver quem produz o som mais alto. Isso por cinco, seis horas. Só na Rua Real do Poço, eles somaram seis. O mesmo desconforto aconteceu por conta de festas privadas, como as promovidas pelo Barcha, que disse estar “de volta às raízes do Poço da Panela”.
O Barcha, segundo os moradores, é o grupo empresarial ligado ao BarChef, que durante anos incomodou os moradores do Poço da Panela com seu som excessivo, até ser proibido de atuar daquela forma pela justiça. Pois em 2023, o Barcha não deu sossego aos moradores do Poço da Panela. Residente no bairro desde 1970, o arquiteto Pedro Montenegro afirmou ter vivenciado o “o pior carnaval do Poço”, no final de semana. Ele precisou pedir ajuda à Polícia Militar, que chegou com quatro viaturas, após muita insistência. A PM silenciou os paredões e solicitou à festa que baixasse o som. “Eram quatro carros com reboque com som absurdo e luzes piscando na frente da minha casa, além de uma festa com som ensurdecedor no imóvel vizinho”. Eu estive no Poço, mas como foliã, não demorei porque os paredões estavam insuportáveis. Em nível de estourar meus tímpanos. Saí correndo. “Incomodado com o paredão, o proprietário de um restaurante, no Poço, pediu que o dono do veículo baixasse o som, mas foi recebido com grosseria”, segundo revela Bárbara Kreusig, também indignada com o excesso de barulho.
”Isso é uma festa funk”, justificou o proprietário do serviço de som, que nem saiu do local nem reduziu o volume. Dona do Poço das Artes, a artista plástica Clarissa Garcia viu o som do bloco lá concentrado – O Mulher de Bigode – ser totalmente abafado pelos paredões. “A gente nem conseguia ouvir o frevo das poucas orquestras que passavam e nem as músicas carnavalescas do playlist aqui da casa”, reclama. Por conta desse tipo de abuso, o carnaval de Olinda quase se acaba, na gestão da então Prefeita Jacilda Urquisa (PMDB), entre 1996 e 2000. Vocês lembram, como a bagunça imperou, por total falta de controle do poder público? Coube à sucessora, Luciana Santos (PC do B), retomar as rédeas da festa e restabelecer o verdadeiro carnaval da cidade, que esteve à beira de desaparecer com a omissão das autoridades municipais de então. No Recife, esperamos que o problema do Poço seja solucionado ainda nessa gestão. Porque se nada for feito… já viu, não é?
No caso do Poço da Panela, falta mesmo é fiscalização. Além da bagaceira da poluição sonora, não há disciplinamento no comércio informal que, com seus fogareiros, fritadeiras e óleo quente colocam em risco a segurança da multidão, já que esses apetrechos ficam na parte dianteira das barracas, justamente por onde passa o público, quando deveriam se limitar a espaço mais resguardado, como aquele entre a tenda e o muro). E, apesar dos moradores terem solicitado banheiros químicos, presença da CTTU e outros serviços, não apareceu foi nada. No domingo, dia em que tradicionalmente circulam blocos infantis, as crianças disputavam espaço com os carros no meio da rua. Sinceramente… Isso é lá carnaval? Cadê o Prefeito João Campos (PSB)? E a Secretaria de Meio Ambiente? E a Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife, a Dircom? Ainda existe? E a CTTU? Os moradores do Poço criaram um grupo contra o abuso e em defesa do autêntico carnaval: #semparedaonopoçodapanela. E estão preparando documentação para enviar à Prefeitura, pedindo providências. Porque do jeito que está, a festa se inviabiliza. Afinal, carnaval espontâneo é muito bom. Mas quando cresce muito, é preciso organizar e o poder público não pode se omitir. Disciplinar é o mínimo que os órgãos competentes devem fazer dever.
Nos links abaixo você confere informações sobre poluição sonora e sobre o #Voltei Recife, o carnaval 2023.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e grupo #semparedoesnopoçodapanela
Este ano o carnaval do Poço da Panela virou realmente um inferno. Era uma mistura de sons tecno, funk, cada qual mais alto, que cobria qualquer outra música que se quisesse ouvir. Tinha a tecno da casa dos Petribu, alugada pelo Barchef e o funk dos 7 paredões de carros espalhados pelo pequeno bairro. Precisamos dos órgãos públicos para colocar limites a esses abusos.