Piano de Elyanna Caldas silencia e velório deverá ser na Academia, Graças

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A pianista Elyanna Caldas, 88, faleceu há pouco, no Hospital São José, no Recife. Referência em música instrumental, ela começou a tocar piano de ouvido aos cinco anos de idade, ao assistir às aulas dadas à sua irmã mais velha.  Aos seis, fazia seu primeiro concerto para uma plateia atenta, no Teatro Santa Isabel. Aos dez já tocava para grandes plateias e, aos 21, Aos 21, já era uma artista premiada.

Ganhou no  Rio de Janeiro o Prêmio Magda Tagliaferro, que funcionou como uma espécie de passaporte para que estudasse na França, tendo conquistado o certificado profissional de pianista pela Ecole Normale de Musique de Paris. Elianna foi uma das fundadoras do Curso de Música da Universidade Federal de Pernambuco, estudou música na Europa e fez concertos no Brasil e no exterior.

Costumava se apresentar na Academia Pernambucana de Letras, sempre ao lado de algum convidado. As tardes musicais lotavam o auditório da APL. Ela era imortal da APL e ocupava a cadeira número que pertenceu ao médico e escritor Orlando Parahym. O velório da pianista deverá ser na sede da APL, onde ele costumava se apresentar, geralmente aos domingos, lotando sempre o secular casarão do bairro das Graças.

“A Academia vai ficar sem som, porque o seu som era Elyanna Caldas”, afirmou o poeta José Mário Rodrigues, imortal como Elyanna e seu amigo. “Era a nossa grande concertista, os recitais dela lotavam a nossa auditório”, lembrou ele agora à noite, comovido com a partida da amiga. “Além de nossa maior pianista, era uma grande pessoa, tinha um caráter imenso”, afirmou. “Sentindo um abalo imenso”.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Reprodução de álbum de família

3 comments

  1. Puxa vida, que notícia triste, Letícia! Estava na Caminhada do Forró quando li seu texto. Meu Deus!, Recife perdeu Elyanna, sua pianista maior. Nos dois últimos anos, mesmo com a saúde fragilizada, ela ainda nos brindou com algumas apresentações. Elyanna era talentossíssima, tinha tudo para trilhar uma carreira internacional. Contudo, ao conhecer aquele que viria a ser seu amado esposo, ela optou por casar e dedicar-se prioritariamente a família. Eu não perdia seus recitais na Academia, Conservatório, ou no Santa Isabel. Elyanna destacava-se pelo seu pianíssimo. Para quem não sabe, pianíssimo é aquele toque sutil que ao ser extraído do teclado soa quase como um suspiro. Deleitei-me e muito, com os pianíssimos de Elyanna, principalmente, os das peças de Chopin, compositor que ela tocava com frequência. De todas, a lembrança mais inesquecível e suigeneris que tenho de Elyanna é a de quando ela tocou na praia, em um caminhão. Contarei. Há aproximadamente 9 anos, um político a contratou para dar um recital em cima de um caminhão, em uma praia do litoral norte. Ao ficar sabendo, decidi que iria a tal praia assistir. De imediato contratei uma uber conhecida para me levar e trazer. Na ocasião, estava de passagem pelo Recife uma amiga de infância que reside em Natal. Coincidentemente ela me ligou na véspera. Ao tomar conhecimento da história resolveu ir comigo. Levei uma garrafa de vinho. A ideia era sairmos mais cedo para saborearmos o vinho com um peixe assado em algum boteco da dita praia. Foi uma verdadeira aventura. Choveu no caminho e o trânsito ficou difícil. Para completar, o local era extremamente pobre e os botecos, precários, não dispunham de taças. Como degustar o vinho? Eis que um senhor que bebericava num dos bares se prontificou a buscar taças na sua casa. Enquanto isso, o peixe ia sendo preparado. Taça na mão e mesa posta, iniciamos o mata fome. A hora foi passando. Quando vimos deu 19h, horário do início do recital. Pagamos a conta e saímos as três correndo. O caminhão estava posicionado ali perto. Cena linda: cadeiras dispostas na areia, carroceria do caminhão aberta e Elyanna a tocar para uma plateia paupérrima, silenciosa e atenta. Sentamos. Ao erguer-se para agradecer os aplausos ela me avistou e abriu um sorriso que guardo bem guardado comigo. Vivenciamos ali um momento onírico: pé na areia, brisa no rosto e o piano de Elyanna a nos embalar. Pegamos a estrada de volta ao Recife quase às 21h. Até hoje essa lembrança me enche de prazer. Vai em paz Elyanna, existem outros mundos onde teu piano poderá soar.

  2. Gostaria de enfatizar a fala do acadêmico José Mário Rodrigues:” a Academia vai ficar sem som, porque o seu som era Elyanna Caldas.” A fala de José Mário é a expressão exata da realidade. A APL não perdeu apenas a acadêmica Elyanna Caldas, perdeu a sua musicalidade. Com o seu piano, Elyanna imprimiu alegria e leveza à casa das letras.

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