Pesca predatória ameaça lagosta

Houve época em que era farta a oferta de lagosta, principalmente no Norte e Nordeste. Mas décadas de pesca predatória e de consumo de indivíduos jovens (que ainda não atingiram a idade reprodutiva)  e fêmeas ovadas terminaram colocando em risco um recurso pesqueiro  de grande importância econômica e que chega a movimentar 50 milhões de dólares em exportações por ano no Brasil. O alerta vem da Oceana que acaba de publicar estudo inédito no qual mostra que, a permanecer o atual modelo de exploração, a atividade entrará em colapso. É que os estoques do crustáceos estão 18 por cento abaixo da capacidade de demanda.

A Oceana acaba de publicar um relatório sobre o assunto.  E nem é preciso muita pesquisa para se constatar a razão do problema. Nas praias do Nordeste, por exemplo, é comum observar-se a venda de lagostas “adolescentes” como tira gosto, à beira-mar.  Ou de fêmeas em período reprodutivo. ovadas como a da foto acima.   Para se ter uma ideia do que isso representa,  após o acasalamento, cada fêmea libera de 150 mil a 300 mil ovos no mar. Até mesmo em áreas bem urbanas, como é o caso de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife,é possível observar-se certos abusos. De acordo com o levantamento da Oceania, a pesca hoje depende de indivíduos jovens, já que a pressão pesqueira é tão grande que as lagostas não conseguem mais crescer. “Para recuperar a estrutura etária da população, é fundamental o estabelecimento de limites de captura, o que pode resultar, inclusive, em melhores rendimentos da pescaria”, explica o oceanólogo Ademilson Zamboni, Diretor da Oceania. O resultado da pesquisa foi apresentado pelo diretor científico da Oceana, Martin Dias, em webinar realizada esta semana.

Estoques de lagosta estão em baixa e atividade pesqueira corre risco: Necessidade de fiscalização e disciplinamento.

Embora ocorra desde o Espírito Santo até o Amapá, há uma concentração da pesca da lagosta no Ceará, onde estão 62% das três mil embarcações registradas para a pescaria. A indústria do pescado gera mais de 250 mil postos de trabalho no estado, entre diretos e indiretos, segundo o Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrios), sendo um importante vetor da economia. Mais de 90% da produção brasileira de lagosta é destinada à exportação, tendo como principais destinos os Estados Unidos, China e Austrália. Em relação ao período de defeso, que terá início em 1º de dezembro e terminará em 31 de maio de 2021, a Oceana avalia que a manutenção dos seis meses é fundamental para a conservação da espécie. Porém a fiscalização deixa a desejar. No Brasil, ocorrem cinco espécies, sendo a vermelha (Panalirus argus), a mais consumida.

“A redução desse período só deve ser considerada quando medidas alternativas forem identificadas e efetivamente implementadas, e mesmo assim o mais provável frente ao cenário crítico é que os limites de captura sejam uma medida que complemente o defeso”, alertou Martin Dias. A elaboração da avaliação de estoque da lagosta-vermelha faz parte da campanha iniciada em 2019 pela Oceana com o objetivo de modernizar a gestão dessa pescaria, protegendo a espécie e garantindo o futuro da atividade. O modelo seguido já foi aplicado com sucesso na pesca da tainha – em 2018. A Oceana divulgou a avaliação de estoque atualizada da tainha e, a partir dela, propôs um limite de captura para a safra daquele ano, que foi discutida e adotada pelo governo federal. A medida consiste em determinar a quantidade máxima para captura de uma espécie a partir de avaliações de estoque, que levam em conta, sobretudo, a produtividade dos recursos pesqueiros.  Após vários debates as lideranças da pesca também foi recomendada à Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) a adoção de limites para a captura da lagosta como forma de garantir o futuro da pescaria no país.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos Cprh (Acervo #OxeRecife) e Imagem de Johnnie Shannon por Pixabay 

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