Muita gente já passou por isso. Vai ao consultório, o médico mal olha para você, e lhe encaminha para um exame sem, ao menos, perguntar mais detalhes a respeito das queixas do paciente. Já aconteceu comigo. Cheguei em uma conhecida clínica do Recife, com dores que, penso, seriam algum problema na coluna. O Dr indagou: “Qual seu problema?”. Respondi: “Uma dor aqui”. E ele deu uma requisição e ordenou: “Vá para o Raio X”. Não fui, claro. Sumi. E nunca mais apareci lá. Afinal, serei eu algum bicho para não ter o direito a falar? De outra, depois de passar 20 dias sem permissão para colocar o pé no chão, senti dores fortíssimas por todo o corpo. Mas o Dr que me atendeu, passou um analgésico, sem ao menos me examinar. Eu poderia estar com uma crise de vesícula, apendicite, um cálculo no rim, enfartando. Mas nada foi checado. Mudei de ortopedista.
Outra: minha mãe (já falecida), uma vez foi a um conhecido dermatologista do Recife, usando seu plano de saúde. Como não melhorou, comprou consulta particular ao mesmo médico, a quem informou que tipo de pomada estava usando. Ele disse que o remédio não prestava. Minha mãe o lembrou: “Mas foi o senhor mesmo que passou”. Pois o médico limitou-se a dar uma grande gargalhada do caso. Só não sei se ele tripudiava do papel de otária que fez a paciente ou se dele mesmo, por ter feito tão grande besteira. A gente sabe que há os bons profissionais. Mas a julgar pelos números fornecidos ao #OxeRecife pela Associação de Erro Médico do Estado de Pernambuco (Asvem-PE), os maus profissionais devem ser uma soma grande. Em Pernambuco, a Asvem acompanha nada menos de 3 mil casos de suspeita de erro médico no Estado.
Para a Asvem, o erro médico deve ser tratado como problema de saúde pública, “face ao grande número de casos, agravado pela superlotação de hospitais, falta de profissionais e carência de aparelhagem e materiais”. Um dos exemplosmais gritantes é o da engenheira Urbânia Possidônio de Barros Carvalho. Em 2013, ela submeteu-se a cirurgia para histerectomia em um conhecido hospital particular do Recife, localizado no Derby. Mas teve o intestino perfurado no procedimento. Mesmo queixando-se de dores, continuou sendo alimentada normalmente o que contribuiu para piorar o seu quadro. Foi depois encaminhada para uma segunda cirurgia, quando bronco aspirou fezes e terminou morrendo sem, sequer, saber o motivo do agravamento de sua saúde. Desde então, a família da vítima luta por justiça. “Desse caso já participaram sete delegados, quatro promotores e três juízes”, afirma Urbanete Carvalho, irmã de Urbânia e Presidente da Asvem-PE. “Após seis anos de espera, aguardamos a designação do quarto julgador para sentenciar, sem que ele tenha participado da instrução do processo, que é demasiadamente complexo, e corre risco de prescrição”, lamenta. E com muita razão.
“Lamentavelmente a impunidade ronda esse caso, como muitos outros”, diz. Para Urbanete, os 3 mil erros registrados na Asvem não refletem a realidade. O problema seria muito maior. “Mesmo sendo este um grande número, não representa o quantitativo real, pois há familiares das vítimas que não denunciam o descuido”, afirma. E acrescenta: “Muitos não se mobilizam por falta de conhecimento dos seus direitos, a quais órgãos se dirigir ou, pior ainda, não acreditam nas instituições”. Para a artista plástica Clarissa Garcia, a dor foi dupla, devido a erros médicos. “Minha mãe, Vileni Garcia, morreu por erro e negligência médica. Depois, foi meu companheiro. A mesma sequência de erro e negligência”, diz Clarissa, que é a idealizadora do Poço das Artes, conhecido ponto de encontro do Poço da Panela. A mãe morreu com 66, e o companheiro com 54. Mas a família não recorreu à Justiça para reparar as perdas. Ela justifica: “Preferimos nos calar. Na hora da dor, a gente fica sem forças para brigar”. No caso de Urbânia, a família quer sim que os responsáveis respondam pelo que fizeram. Caso você tenha sido vítima de erro médico ou alguém de sua família, procure a Asvem – PE. Informações mais detalhadas no serviço abaixo.
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Serviço
O quê: Associação do Erro Médico do Estado de Pernambuco Asvem –PE
O que é: instituição filantrópica que acompanha 3.000 casos de suspeita de erro médico em nosso Estado.
Onde funciona: No Empresarial Centro da Moda, Avenida Presidente Kennedy, 1001, Peixinhos, Olinda
Observação: A Asvem – Pe pede ao cidadão que se sente constrangido ou prejudicado por profissionais de medicina que não deixe passar em branco. Busque registar denúncia junto aos Ministérios Públicos (Federal e estadual), delegacias (Consumidor, Idoso, Mulher entre outras próximas ao local do fato), Conselhos de Classe, Ouvidorias, Planos de Saúde e outros canais disponíveis. Em seguida, informem esses registros à Asvem, para que possamos acompanhar o caso junto aos órgãos competentes.
Email: asvem.pernambuco@gmail.com
Telefones: 3107-4843 ou 99329-7725
Atendimento: 14h às 18h, todas as terças-feiras
Redes sociais: WhatsApp(99329-7725); Facebook – Asvem-PE
Blog: asvem-pe.blogspot.com.br
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Álbum de família, com arte de Clarissa Garcia
Ficou excelente. Parabéns pelo impecável trabalho.
Muito obrigada pela dedicação a essa causa.
Parabéns pela coragem de divulgar tema de suma importância para a população, porém tratado com desdém pelo Poder Público.
Importante compartilhar o tratamento desumano e desrespeitoso de alguns profissionais de saúde que maculam a imagem de toda a categoria e com isso motivar os bons profissionais a denunciarem as más práticas.
Lutar por justiça é mais que direito. É um dever de todo cidadão. Não desistam!!!!