A peleja de Cirino com o pica-pau

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Uma figura, Armando Cirino, morador do Sítio Serrote Verde, em Carnaíba, no Sertão do Pajeú. Eu o conheci quando conversava com Enoque das Plantas, na feira de Afogados de Ingazeira, cidade vizinha, localizada a  386 quilômetros do Recife. Armando estava olhando as “mercadorias” de Enoque – mudas de árvores nativas, fruteiras, hortaliças – para escolher algumas e levar para sua chácara, de 25 por 120 metros. O espaço é pequeno, mas o suficiente para produzir algumas frutas.

“Tenho quatro pés de maracujás, que renderam mais de mil frutos na safra”, orgulha-se. Na terra dele tem, também, pinha, goiaba, caju, laranja e romã. São três pés desse fruto. E é aí que… mora o problema. Armando estava procurando protetores para as romãs (não conheço, mas ele disse que se vende nas lojas), para se defender do pica-pau. Ele não usa veneno na plantação. Teme matar os pássaros e prejudicar as  árvores.

“O pica-pau tem um bico afiado, e a língua dele parece um espeto”, explica. “Ele faz o furo na romã, enfia a língua e  puxa as sementes”, acrescenta. “Depois disso, o pássaro come a carne dos carocinhos e joga as sementes no chão, aí nascem outros pés de romã”, conforma-se. Diz que depois do pássaro esvaziar a romã, “ela não presta para nada”. Mas salienta: “Em compensação, o picapau semeia o chão”.

Disse que outro passarinho para gostar de fruta é o sanhaçu. Adora goiaba. “E eu já plantei umas goiabeiras justamente por causa dele”.  Todos os dias, Armando coloca alimentos para os pássaros. E não se revolta com as aves, por comer os frutos do seu sítio. “A natureza é deles. E eu amo a natureza, os  pássaros, as árvores”. E conclui: ”As árvores são tudo na nossa vida, purificam o ar que a gente respira”. Voltei do Sertão com uma promessa de Cirino: enviar para mim, via WhatsApp, uma foto dele com a romã furada pelo picapau. Disse que a filha o faria. Mas ele não cumpriu a promessa.

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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